Coisa de irmão

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É, Mel, os relacionamentos são e sempre serão confusos até que a gente possa se conhecer tão bem e passe a enxergar o quanto é difícil mudar certas atitudes nossas - quem dirá as dos outros.
Mas tem gente que é perfeita assim, do jeitinho que é. Falo isso por causa do meu irmão, a quem chamo de big brother, mas com o sentido de ele ser um grande cara mesmo. Tenho várias histórias engraçadas com ele, mas a que vou contar é especial...
Sabe aquela pessoa que atrai confusão? Esse é o Carlos, mais conhecido por Calotas.
No verão de 1995 ele resolveu tirar umas férias com meu pai e convidou um amigo para irem para Paúba, uma praia no litoral norte de São Paulo. Como as agendas não batiam, e meu pai tinha que deixar minha avó em Santos, ficou combinado que todos iriam separados. Meu irmão foi o primeiro a sair, de ônibus, e chegou em Santos de madrugada. A chave do apartamento da vovó estava no prédio vizinho e o porteiro nem o viu entrar. Papai e vovó chegaram de manhã, mas meu pai queria ir logo para Paúba.
Assim, Calotas passaria o dia com vovó, esperando minha tia chegar de Miami e o amigo, Grilo, para, então, poderem seguir viagem.
O dia passou sem maiores problemas para aquela senhora e seu netinho. Mas eis que anoitece e nada da tia Sara. Meu irmão começou a ficar preocupado, já que era 21h e o vôo dela chegaria às 15h, em São Paulo. Minha avó começou a rezar, vendo o Calotas ligar para o aeroporto, para a polícia rodoviária, para meu pai, pra Deus (também) e o mundo.
Nisso, uma vizinha do apartamento, sem nem imaginar que poderia ter alguém lá dentro, chama a polícia, pensando que ladrões tinham invadido o prédio.
Exausto, o Calotas estava sentado na varanda, olhando a bela noite de Santos, o mar, a balada lá embaixo e... a polícia. A polícia?
Inocente, ele resolveu trancar-se em casa, enquato vovó ainda rezava, imaginando que ladrões tinham invadido o prédio.
De volta à sacada, na tentativa de ver o que estava acontecendo, Calotas se depara com dezenas de policiais, em cima, embaixo, do lado e um deles pergunta: "Ô, moleque, o que você está fazendo aí?".
Meu irmão abriu a porta, certo de que a situação se resolveria, quando minha avó sai do quarto em que estava a rezar e se depara com os policiais, a vizinha e o porteiro. Nova confusão! Quem conseguia explicar para aquela senhora que minha tia NÃO tinha morrido num desastre de avião? Detalhe: vovó era boliviana e só falava o castelhano.
Calotas soltou o famoso "vocês que se entendam" e voltou para a sacada. A noite de Santos estava bonita demais.
Meia hora depois, tudo estava resolvido. O vôo da tia Sara tinha atrasado mesmo e ela, o Grilo e meu meu chegaram pela manhã. Vovó pôde rezar e agradecer pela saúde de todos e o Calotas foi, feliz, para Paúba, onde conseguiu se perder no caminho de uma cachoeira. Não falei? Esse é o meu irmão.

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