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Melhor do dia

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Eu tenho preguiça da língua portuguesa calcada em regras mais velhas que a minha avó. E tenho mais preguiça ainda de justificar as escolhas das palavras na minha profissão. Resumindo, publicidade é linguagem coloquial sem chutar o balde. Na maioria das vezes a gente tenta colocar a regra clássica, mas tem que ver se ela dialoga com o público. Como o professor Pasquale me disse uma vez: você pode transgredir a norma, desde que seja com propósito.

Não foi o caso de uma peça que liberamos aqui que tinha a palavra melhor antes de um particípio.

Lembrando: melhor pode ser adjetivo ou advérbio:

Adjetivo
1) que, por sua qualidade, caráter, valor, importância, é superior ao que lhe é comparado.
2) que possui o máximo de qualidades necessárias para satisfazer certos critérios de apreciação.

Advérbio
3) mais bem
4) de maneira mais perfeita
5) mais acertadamente
6) com mais exatidão
7) com mais consideração
8) fazendo com mais vista
9) aquilo que é superior
10) aquilo que é adequado

Aí, uma pessoa no Twitter vem falar que não existe empresa "melhor administrada". Pior, a pessoa pede pro dono da agência contratar um revisor.

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Segundo o Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, do professor Domingos Paschoal Cegalla, à página 256, “antes de particípio, pode se empregar mais bem ou melhor, indiferentemente”:

Ele está mais bem informado / Ele está melhor informado
Eram casas mais bem construídas / Eram casas melhor construídas

A forma clássica, original, é a não contraída: o time mais bem colocado, as questões mais bem aceitas, a frase mais bem elaborada, os políticos mais bem instruídos. No entanto, pelo fato de mais bem ser sintetizado para melhor, a expressão se transformou com o tempo, e hoje se admite o uso de "melhor" em construções como estas:

O time que for melhor colocado terá privilégios.
Parece que agora os papéis estão melhor distribuídos em termos sociais.

Quando a pessoa tuitou sua mensagem, poderia estar com a melhor das intenções. Ou mais bem intencionada. Ou melhor intencionada, que o texto é meu e eu coloco como quiser. O fato é que não se chama de erro de português algo que gramáticos de peso já aceitam. A reforma ortográfica está aí para provar que os tempos são outros, minha gente!

Quem revisa amigo é

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Não sei se todo mundo que chega aqui ao Diário sabe que ele é escrito por duas amigas que, depois disso, são revisoras de texto em agência de propaganda.
Eu e a Sam (ou Tequila e Mel) nos conhecemos nos nossos primeiros empregos aqui de São Paulo. Sim, porque, além das milhares de coincidências que fazem com que as pessoas nos perguntem todo santo dia se somos irmãs, também somos criaturas vindas do interior e incapazes de pronunciar frases como "carne morta atrás da porta" sem entregar nossas origens.
Tudo começou na Energia, Young & Rubicam, um braço da Y&R que fazia o cocô do cavalo do bandido da publicidade. Passávamos noites revisando preço de azulejo e massa corrida. Mas era muito bom, tenho que confessar. Por vezes eu me peguei pensando que era isso que eu queria fazer da minha vida. E assim começou essa trajetória, há exatos 10 anos. Depois que a Sam saiu da Energia, fui trabalhar na Young & Rubicam mesmo, dentro da criação. Com a ajuda da Rita Corradi, VP da época, comecei a pegar alguns jobs como redatora também. Mas logo pintou uma vaga legal na Lowe, e então foi minha vez de mudar. Quem trabalhou na Lowe sabe: nunca houve uma agência como aquela. A verdadeira casa da mãe Joana era ali. E a gente trabalhava muuuuuito, mas ria muuuuuito também. Virávamos noite liberando anúncios de Renault, mas a fuleiragem era tanta, que acabava virando balada. Fiz ótimos amigos ali, que vou carregar para sempre no coração.
Bom, anos depois, se a Sam, a essa altura do campeonato, voltava para a Young, em São Caetano do Sul, tinha que acontecer comigo também. Fui chamada de volta para a sede de São Paulo, dessa vez comandada por Roberto Justus. Acho que essa Young foi o maior desafio da minha vida. Digo que quando completei 30 anos uma chave virou dentro de mim e tudo mudou. Enquanto me redescobria e alguns setores pessoais ruíam de vez, trabalhava feito louca e chegava chorando em casa. Definitivamente, eu odiei esse tempo. Não foi legal, mas hoje sei que não tinha a ver com o trabalho. Era eu mesmo.
Então mudei tudo. Mudei de casa. Mudei de corpo, mudei de trabalho. Virei redatora em uma agência menor. E por isso mesmo nunca deixei de revisar. Foram dois anos criando. Bem bacana, aprendi muito mesmo. Mas aprendi, inclusive, que redatora eu nasci. E que de vez em quando faz bem seguir seus instintos. Foi quando, numa tarde de maio, recebi duas propostas para voltar para a revisão. Duas. Seguidas. E então aceitei a da Africa, que é onde estou hoje. Ah, e dois meses depois o que aconteceu? Chamei a Sam para trabalhar aqui. Recomeçar qualquer coisa é sempre um ano-novo dentro de cada um de nós.

Bom, tudo isso foi mesmo para explicar como chegamos aqui. É que muita gente não conhece bem o trabalho de revisão em agência de propaganda e por isso vale a pena deixar algumas dicas.

  • Se você é daquelas pessoas que leem tudo o que passa pelas mãos, tipo rótulo de shampoo durante o banho, caixa de cereal matinal no café da manhã e texto legal do rodapé da promoção, we want you! Um revisor nato faz coleção de dicionário como a Sam ou de gramática como eu.
  • Não importa sua formação acadêmica. Para ser um bom revisor, você precisa mesmo é ter tido uma boa base de educação (acho que isso vale para muitas profissões). Não pode ter faltado na aula de análise sintática de forma alguma, que isso faculdade nenhuma ensina direito (e eu fiz Letras, hein?). Precisa lembrar de quem é o sujeito, o predicado, de como pontuar corretamente e o que é a crase de verdade. Não adianta muito ter feito uma monografia em linguística, porque no dia a dia você vai precisar mesmo é decidir em um espaço muito curto de tempo se usa próclise ou mesóclise e se uma oração é explicativa ou restritiva. Geralmente com gente gritando "cadê o anúncio?" e com o jornal rodando na gráfica.
  • Conhecer bem o que é publicidade é pré-requisito. Eu confesso que quando fui parar no meu primeiro emprego me perguntei por dias quem era Young e quem era Rubicam. Hoje reconheço um óculos de aro grosso a metros de distância e sei que promoção agora se chama ativação. Um curso rápido ajuda, mas nada como viver um tempinho dentro de uma agência de verdade (quer aprender pra valer? Comece em agência pequena, onde todo mundo faz tudo).
  • Revisor não lê. Conta letrinha.
  • Siga o professor Pasquale, o Novo Houaiss e a Academia Brasileira de Letras no Twitter. Se não sabe o que é Twitter, procure outra profissão.
  • Corra imediatamente atrás de um curso sobre o novo acordo ortográfico. Tá tarde, mas ainda dá tempo.
  • Você pode ser revisor, mas será também publicitário. Desista das regras mais sisudas da Língua Portuguesa, mas insista no que é certo. Lembre-se que a linguagem é coloquial, mas não precisa ser assassinada.
  • Não despreze a tecnologia. O revisor do Word é ótimo para pegar erros de digitação. Saiba usar os marcadores dele e do Adobe Professional também. E, de preferência, num Mac!
  • Conforme-se em trabalhar em horários estranhos, com gente esquisita e louca. Em pouco tempo você se torna uma delas.
Por fim, uma lista de livros obrigatórios e cursos interessantes:
Por fim, acabo de organizar aqui no blog alguns marcadores que você pode ver em formato cloud na coluna aqui ao lado. Chamei de capítulos e você encontra mais dicas no de Revisão.

E, para encerrar o post, nada como um exemplo ilustrado de onde o erro engana o olho até dos mais atentos revisores (em tempo: não fomos nós, ufa).

Cartaz da Oi na entrada do shopping Iguatemi. Achou o erro?

Valores das palavras

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Ontem eu coloquei no Twitter uma dúvida que deixou todo mundo de cabelo em pé e com vontade de correr para a aula de Língua Portuguesa. Ou correr dela.

Enfim, o caso, que mais parecia um problema matemático, estava no seguinte texto:

Quando se têm valores / Quando se tem valores

E aí? Têm ou tem?

Para resolver a "questã" a gente tem primeiro que entender o valor do "se", pois ele vai determinar o que acontece com o verbo.

E, dentre algumas possibilidades, ele poderia ser pronome apassivador, que significa que "o sujeito é paciente" (adoro essa explicação), ou pronome de indeterminação do sujeito, quando não sabemos quem fez o quê.

Há dois tipos de voz passiva. A analítica e a sintética. É justamente na sintética que aparece o pronome apassivador, como em "vendem-se casas", "consertam-se sapatos". Sim, o verbo aparece sempre flexionado nesses casos, porque "casas são vendidas" e "sapatos são consertados".

Já no caso de sujeito indeterminado, o verbo nunca é flexionado: "falou-se de muitas coisas" (quem falou? não importa). O problema é que o sujeito indeterminado só aparece quando o verbo for transitivo indireto, quer dizer, quando exige uma preposição antes do complemento, ou quando for intransitivo (sem complemento).

E o verbo "ter" é transitivo direto. Rá.

Então voltamos para a primeira opção. Ok, se valores vira o "sujeito" da ação (que no caso não é uma ação), ao transformarmos a voz passiva sintética para a analítica a oração ficaria "valores são tidos". Achou estranho?

Aqui você pode ler um pouco mais sobre o problema e note, nesta outra matéria, que a autora usa o verbo flexionado ("É dada preferência ao uso da inicial maiúscula quando se têm enumerações longas").

Porém não faltam exemplos também da forma singular, nessa terra de ninguém que é a internet.

Achei uma tabela bem funcional para diferenciar o papel do "se" nesses dois casos. Dê uma olhada aí e faça a sua aposta.


Update: a Academia Brasileira de Letras acaba de responder a essa questão (para quem ainda estava na dúvida). É voz passiva mesmo.

Novo acordo ortográfico - a saga

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Agora que tá valendo, algumas ferramentas podem ajudar a escrever certo desde já. O novo acordo ortográfico da língua prevê um prazo de 3 anos para a adaptação, mas todo formador de opinião ganha pontos escrevendo direito.

Uma boa saída é instalar o Vero, um corretor ortográfico para usar no navegador Firefox e evitar erros de português em e-mails. Clique aqui e veja como instalá-lo.

Mais completo, o FLiP:mac 2, em versões para o português de Portugal e do Brasil, tem suporte adequado ao novo acordo e inclui corretor ortográfico, nove dicionários temáticos, um dicionário de sinônimos e um sistema de hifenização de textos. Pode ser utilizado tanto no Microsoft Office 2004 quanto no 2008 e também integra-se ao sistema nativo do Mac OS X (já é um binário universal), incluindo softwares como o Editor de Textos (TextEdit), Mail, Pages, Keynote, Adium, OpenOffice.org e NeoOffice.

Um prático conversor disponibilizado no Interney tira dúvidas na hora.

E, claro, como saber é sempre bom, vale a pena imprimir e ler o Michaelis - Guia Prático da Nova Ortografia, assim como conhecer a lista com todas as palavras de mudaram.

Para os fãs do Word, que ainda não apresentou nenhum projeto com as mudanças no seu corretor, dá pra ajeitar na mão e facilitar a vida. Segue um "tutorial" básico:

1- Primeiro faça uma lista com as principais palavras que mudaram, as de uso mais corriqueiro. Eu usei a do Michaellis aí. Para não ter que ficar digitando, copie e cole do próprio PDF ou Portal da Língua Portuguesa.

2 - O corretor do Word vai sinalizar como erradas as novas formas de palavra. Na caixa de correção, em vez de alterar ou ignorar, clique em adicionar.

Pronto, agora seu Word não estranha as palavras novas.

3 - Vá em Ferramentas, Auto Correção e faça a substituição de palavra por palavra. Assim, toda vez que você escrever jibóia, por exemplo, a palavra é instantâneamente alterada pela nova forma, jiboia.

Pronto, seu corretor está minimamente adaptado para o novo acordo. Dá um trabalhão fazer isso, mas lembre-se que apenas 0,45% de palavras vão mudar, uma em cada 223. Por isso é legal alterar aquelas palavras de uso diário, as mais comuns para você. E, então, até 2013 você já pegou o jeito e vai estar com o olhar mais acostumado às novas formas que estão sendo implantadas.

É só o começo

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Novo Acordo Ortográfico
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ÉçeOÉçe

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Eu ainda não tinha visto, mas não ficou ótimo meu texto lá no PSV? E digo isso porque o site é bacana demais e os comentários idem. Valeu, pessoal do Portfólio Sem Vergonha!

Os dez erros gramaticais mais comuns podem estar em seu texto. Juntos.

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Gabriel Perissé, em seu excelente texto “Oços do Ofíssio”, lembrou que Monteiro Lobato costumava dizer que a tarefa do revisor é das mais ingratas. Que o erro se esconde durante o processo de confecção do livro para, depois de tudo pronto, aparecer na primeira página aberta, como um saci danado, pulando, debochando do profissional.
Eu penso, e aprendi na prática de anos revisando peças publicitárias, que não podemos ser radicais e que nem todo redator domina com propriedade a gramática da Língua Portuguesa (se fosse assim, digo que teria começado como redatora de uma vez), quiçá outros idiomas, tão presentes na comunicação brasileira, assim como os neologismos, regionalismos e gírias das mais variadas.
Confesso que quando comecei era mais exigente. Mas com o tempo relaxei e aprendi que algumas vezes os erros são propositais e uma tentativa de aproximar-se do público-alvo. Mas que fique claro: essa transgressão da norma, uma “licença-publicitária”, só é aceita quando a peça exige. Todo o resto continua sendo sinônimo de que você fugiu daquela aula de Português e motivo de vergonha mesmo.

Sendo assim, listei aqui os dez erros gramaticais mais comuns que venho encontrando em propaganda, entre publicitários e em mesas de bar. Se por algum acaso do destino você pretende ser redator, recomendo ainda ter em mãos dois bons dicionários (Aurélio e Houaiss, que nem sempre concordam em tudo) e o Manual de Redação do Estadão, além de saber alguma coisa sobre o professor Pasquale e o Sacconi.

1- Pra mim fazer.
Eu poderia explicar que ‘mim’ não pode ser sujeito, mas prefiro dizer que falar assim é imitar os índios de algum filme bobo da Sessão da Tarde. É feia, mas grave a seguinte contração: “preu fazer”. Depois, aos poucos, vá soltando o ‘pra’ do ‘eu’. Pra eu fazer. Pra eu levar. Pra eu (qualquer verbo no infinitivo).

2- Venda à prazo.
Ahhhhh, a crase. Essa palavrinha que não significa um acento, mas sim um encontro. Explico: crase nada mais é que a junção de dois ‘as’. Um é a preposição. O outro é o artigo.
Vou à casa da minha mãe = Vou a (prep.) a (artigo) casa da minha mãe.
Veja no masculino: Vou ao banco = Vou a (prep.) o (artigo) banco.
Por isso não existe crase antes de palavra masculina.

3- Esse senhor, é meu pai!!!
Pontuação não é respiro. Vírgula serve, na maioria dos casos, para separar elementos de uma oração que tenham a mesma função sintática. Por isso, force-se um pouquinho para entender quem é o sujeito, quem é o predicado e não bote entre eles esse sinalzinho gráfico. Também não faça uso de exclamações em excesso, reticências a toda hora e essas coisinhas que a gente adora fazer em conversas de MSN.

4 – Erros de dijitassão e erros de ortogafia.
São muito comuns e pegam até mesmo os mais atentos revisores. Isso acontece porque costumamos a antecipar a leitura das palavras. Uma boa dica para revisores: faça a leitura de sílaba por sílaba e marque com um lápis ou mentalmente as já lidas. Para os redatores, antes de aplicar o texto no layout ou em arte-final, escreva-o no word e use o corretor ortográfico. Seja revisor de si mesmo e peça ajuda sempre.

5 – Wrong traduciones.
Muito cuidado com estrangeirismos e palavras em outros idiomas. Muitas vezes elas não são o que parecem e podem provocar uma saia-justa internacional. Trabalhei em uma agência que traduziu o slogan de uma famosa companhia aérea pro francês, “Vous êtes né pour voler”, sem saber que o verbo ‘voler’ (voar) também significa roubar, em francês. “Você nasceu para roubar” não seria mesmo uma coisa apropriada, e a sorte de todos foi que o revisor era curioso o suficiente para ligar para uma amiga que conhecia o idioma.

6 – Obrigado(a).
Não tem erro: meninos dizem obrigado. Meninas dizem obrigada. E os simpatizantes podem escolher!

7 – Super legal.
O maior problema entre revisores, redatores e diretores de arte. Isso acontece porque o redator cria o título assim, com as palavras separadas. O texto é aprovado e o diretor de arte transforma em imagem vetorizada. O cliente aprova e a arte-final chega para o revisor avisar pela enésima vez que ‘super’ é prefixo e que, portanto, a palavra correta, por mais estranha que possa parecer, é ‘superlegal’. Quanto vocês querem de aposta que ela vai sair errada e separada?

8 – Regência verbal (hãn?).
Nesse momento a gente precisa voltar um pouquinho àquela aula do colégio. Que raio vem a ser isso? Bem simples: é a relação de dependência que um verbo estabelece com seu complemento. Ou em outras palavras: que preposição usar (ou não) com cada verbo.
É um pouco chato, mas lembre-se dos casos mais famosos: :’ir/chegar a’ (e não ‘em’). ‘Assistir ao filme’ (‘assistir o filme’ significa dar assistência).

9 – Eles tem razão.
Verbo também tem plural. ‘Eles têm razão’ e ‘eles vêm aqui’.

10- Vícios de linguagem.
Umas das piores coisas, e que a gente dificilmente achará em gramáticas e dicionários, é saber controlar os próprios erros. Termos como ‘a nível de’ e gerundismos em geral (do tipo ‘vamos estar retornando sua ligação’) são consagrados como exemplos do que não fazer, como não escrever e nunca, em tempo algum, repetir. Como saber disso? Não tem jeito: lendo, lendo, lendo. Leia coisas ruins, leia coisas boas e, sobretudo, saiba encontrar a diferença.

É isso. Espero que não tenha atrapalhado muito. E não revisem esse texto.

Para mim, um espresso sem pressa

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Ser revisora é, antes de mais nada, ser compreensiva com quem não é. Não costumo ser chata com a língua portuguesa, não reviso conversa de MSN e e-mails de amigos e me permito errar sempre que a situação permitir (inclusive aqui no blog), pois de chatos já bastam os gramáticos. Ninguém tem todas as respostas e eu acredito que revisor bom não é aquele que sabe tudo, mas o que sabe procurar nos lugares certos, além de saber adequar a linguagem ao contexto em que está inserida.
Por isso, quando ontem me chegou um cardápio de uma lojinha de um dos clientes para revisar, eu previ que teria problemas com o café. Adoro café, ainda mais se for feito na hora! Não é sempre que tomo, tenho que confessar, mas em certas épocas ele me é essencial para agüentar um dia cheio. Na verdade, o que gosto mesmo é de entrar em cafeterias e tomar calmamente alguma bebida quente enquanto folheio revistas e jornais sem nenhuma pressa.
Justamente por isso, em por ter tido a oportunidade de ter entrado em cafeterias famosas em alguns lugares diferentes, eu sempre observei o cuidado com que nelas os grãos são transformados naquela coisa fumegante e perfumada. E, como revisora que sou, sempre me atentei para a grafia da palavrinha que acompanha o café mais famoso do mundo: espresso. Sim. Com S. Porque vem do italiano: caffè espresso. Particípio passado do verbo ‘esprimere’ (espremer). Em outras palavras: café espremido, porque nesse tipo de bebida é retirado sob pressão.
Aí vem a parte ‘ser compreensiva’. Ou prever o futuro. Eu não imagino que todas as pessoas com quem trabalho tenham o hábito de ler e se atentar para esses detalhes lingüísticos. Também acho que muitas dessas pessoas simplesmente estão tão preocupadas com prazo e com seus clientes, que perdem o meio do caminho, ou seja, na pressa e na ânsia de chegar a um resultado, se esquecem da parte mais importante. E o mais triste é que algumas delas acabam vivendo assim. Atropelam quem estiver na frente, cegas de ansiedade, sem reparar naquele ou naquilo que estava todo o tempo do seu lado.
Não sou de fazer barulho. Acho realmente uma pena trabalhar e ver gente assim achando que faz o maior sucesso. Sou da turma dos calados e dos que ouvem mais do que falam. E leio o tempo todo, não só por esse ser o meu trabalho, que sorte. Leio porque sou leitora, absorvo palavras bonitas e feias, “histórias e estórias” o tempo todo, onde quer que eu vá. E foi num dia chuvoso como o dia de hoje que fui tomar um café e vi que na parede do lugar havia a seguinte frase: café espresso não é o café feito ou para ser tomado rapidamente. Bingo. É por isso que não é expresso. Achei isso a coisa mais linda do mundo, porque não há nada melhor do que saborear o momento, curtir as coisas sem a pressa massacrante do dia-a-dia.
Sabendo de todas essas coisas, ousei trocar no tal cardápio o café expresso pelo espresso, achando que assim salvaria o mundo. Digo ousei, porque sabia que faria alarde, mesmo depois de ter explicado à pessoa responsável essa historinha. Hoje, chegando à agência, leio um e-mail triste, com o título de URGEEEEEEENTE, de uma dessas pessoas que atropelam, e que não havia participado do processo, dizendo que está erradíssimo. Sabe, a menina é viajada, teve oportunidades na vida que nem eu mesma tive. Vira e mexe está no exterior, deve conhecer a Itália e ter entrado em muito mais Starbucks que eu. Vá se ralar (***MOMENTO GROSSERIA DETECTED***), não é mesmo? Primeiro porque nem ao menos ela se deu ao trabalho de procurar a razão pela qual os revisores trocaram a grafia de um produto (deve ser porque a gente gosta de ficar inventando moda, somos muito criativos e redatores frustrados). Segundo porque ela não aceitou a primeira resposta que dei, com a maior paciência do mundo, e foi procurar nos dicionários do UOL a palavra. Não encontrando (lógico, porque a palavra é italiana), me pediu mais referências do que eu estava falando (quis dizer a ela que minha referência era a vida e tudo o que eu tiro dela sem correr esbaforida fingindo que sou uma executiva). E finalmente porque, depois de convencida a moça, ainda não recebi um feedback (atendimento adora esses termos) e sequer um telefonema, coisa que provavelmente não vai acontecer, posto que rinocerontes não costumam parar pra esse tipo de frivolidades.
Penso que se ela não prestou atenção nunca na vida que o café era espresso, é porque o dela sempre foi expresso.

Lost in Translation

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Aprendi na faculdade de Letras que algumas coisas não devem jamais ser traduzidas. Poesia é uma delas. Procurar palavras correspondentes entre um idioma é outro é perda de tempo, assassinato de sentidos, e por isso quando não há outra saída (porque não dá pra entender todos os idiomas e expressões do mundo) eu apelo para as versões de tradutores consagrados, de boas editoras e melhor ainda se for uma versão de um escritor brasileiro que não tentou fazer a coisa ao pé da letra, captando o sentido e não a palavra literal.
Dica do dia: fujam da Ediouro e das letras de músicas traduzidas na internet. Ok, se você não sabe o idioma, pode tentar o site Vagalume, mas ainda assim não acredite naquilo que está vendo. É, como eu disse, matar todo o trabalho ou a viagem daquele que escreveu a canção.
Tenho provas do que estou falando. Outro dia, embalada pela trilha do espetáculo Alegría, do Cirque du Soleil, fui pegar a tradução da canção-tema, que originalmente é em inglês, italiano e espanhol. Não sou nenhuma expert nos idiomas, mas tenho noção de um e de outro (bem mais de uns que de outros) e por isso fiquei chocada com a tradução que deram para a seguinte frase: "Alegría, come un assalto di gioia". É certo que as línguas latinas se assemelham muito, mas alguém aí já ouviu falar em falsos cognatos? Com certeza o cara que traduziu o trecho como "Alegria, como um assalto de jóias" não. Aliás, ele também não deve morar nesse planeta, a menos que seja ele o assaltante. Não é preciso pensar muito, apenas ler muito para entender que as palavras têm significados ilimitados. Portanto, traduzir assim é deixar a coisa menor, errada, e tolher dos leitores a possibilidade de fazer coisa melhor dentro de suas próprias cabeças.
Outra música que vem preenchendo meus dias, desde o começo das primeiras batidas, que me dão trecos e por vezes parecem ser as do meu próprio coração, é Love Will Come Through, do Travis. Fui tentada, como sempre, a ver as versões que o Google apresenta e claro que me decepcionei.
Por isso coloco aqui a canção e digo desde já que o que segue não é uma tradução, mas apenas um olhar sobre o que poderia ser. Faço isso porque ler que "burning a hole" seria "queimando um buraco" pareceu demais pra minha cabeça.
Enjoyem :)

Love Will Come Through

If I told you a secret
You won't tell a soul
Will you hold it and keep it alive?

Cause it's burning a hole
And I can't get to sleep
And I can't live alone in this lie

So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain

If the world isn't turning
Your heart won't return
Anyone, anything, anyhow

So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you

Well I stand at the crossroads
Of highroads and lowroads
And I got a feeling it's right

If it's real what I'm feeling
There's no makebelieving
The sound of the wings of the flight of a dove

Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain

If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...

So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you

So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down

If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...

So take me, don't leave me
Take me, don't leave me

Babe, love will come through, it's just waiting for you
Love will come through


O amor vai chegar

Se eu te contar um segredo
Você não dirá a ninguém?
Você vai guardá-lo e mantê-lo vivo?

Porque está fazendo um buraco
E eu não consigo pegar no sono
E eu não consigo viver essa mentira sozinho

Então olhe pra cima
Deixe pra lá
Não olhe para baixo

Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito

Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando

Fico parado nas encruzilhadas
De rodovias e estradas
E sinto que está tudo bem

Se o que estou sentindo é verdadeiro
Não há faz-de-conta
No som das asas do vôo de um pássaro

Deixe pra lá
Não olhe para baixo

Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito

Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando