Coisa de irmão

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É, Mel, os relacionamentos são e sempre serão confusos até que a gente possa se conhecer tão bem e passe a enxergar o quanto é difícil mudar certas atitudes nossas - quem dirá as dos outros.
Mas tem gente que é perfeita assim, do jeitinho que é. Falo isso por causa do meu irmão, a quem chamo de big brother, mas com o sentido de ele ser um grande cara mesmo. Tenho várias histórias engraçadas com ele, mas a que vou contar é especial...
Sabe aquela pessoa que atrai confusão? Esse é o Carlos, mais conhecido por Calotas.
No verão de 1995 ele resolveu tirar umas férias com meu pai e convidou um amigo para irem para Paúba, uma praia no litoral norte de São Paulo. Como as agendas não batiam, e meu pai tinha que deixar minha avó em Santos, ficou combinado que todos iriam separados. Meu irmão foi o primeiro a sair, de ônibus, e chegou em Santos de madrugada. A chave do apartamento da vovó estava no prédio vizinho e o porteiro nem o viu entrar. Papai e vovó chegaram de manhã, mas meu pai queria ir logo para Paúba.
Assim, Calotas passaria o dia com vovó, esperando minha tia chegar de Miami e o amigo, Grilo, para, então, poderem seguir viagem.
O dia passou sem maiores problemas para aquela senhora e seu netinho. Mas eis que anoitece e nada da tia Sara. Meu irmão começou a ficar preocupado, já que era 21h e o vôo dela chegaria às 15h, em São Paulo. Minha avó começou a rezar, vendo o Calotas ligar para o aeroporto, para a polícia rodoviária, para meu pai, pra Deus (também) e o mundo.
Nisso, uma vizinha do apartamento, sem nem imaginar que poderia ter alguém lá dentro, chama a polícia, pensando que ladrões tinham invadido o prédio.
Exausto, o Calotas estava sentado na varanda, olhando a bela noite de Santos, o mar, a balada lá embaixo e... a polícia. A polícia?
Inocente, ele resolveu trancar-se em casa, enquato vovó ainda rezava, imaginando que ladrões tinham invadido o prédio.
De volta à sacada, na tentativa de ver o que estava acontecendo, Calotas se depara com dezenas de policiais, em cima, embaixo, do lado e um deles pergunta: "Ô, moleque, o que você está fazendo aí?".
Meu irmão abriu a porta, certo de que a situação se resolveria, quando minha avó sai do quarto em que estava a rezar e se depara com os policiais, a vizinha e o porteiro. Nova confusão! Quem conseguia explicar para aquela senhora que minha tia NÃO tinha morrido num desastre de avião? Detalhe: vovó era boliviana e só falava o castelhano.
Calotas soltou o famoso "vocês que se entendam" e voltou para a sacada. A noite de Santos estava bonita demais.
Meia hora depois, tudo estava resolvido. O vôo da tia Sara tinha atrasado mesmo e ela, o Grilo e meu meu chegaram pela manhã. Vovó pôde rezar e agradecer pela saúde de todos e o Calotas foi, feliz, para Paúba, onde conseguiu se perder no caminho de uma cachoeira. Não falei? Esse é o meu irmão.

Interior

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Cara Mel, também estou feliz da vida com os comentários que recebemos e gostaria de agradecer de coração aos nossos "leitores" e fãs.
Para quem acaba de entrar no inferno astral, a minha vida está indo muito bem. Vários acontecimentos pequenos anunciam que uma coisa bacana está para acontecer e prometo que volto a falar disso em breve. Mas só para vocês saberem, uma onda de felicidade invadiu a minha praia e tenho até medo que tudo termine em novembro, no dia em que eu apagar... hãm, hãm... algumas velinhas.
Nesses três horríveis dias em que fizemos jus ao nome do nosso blog (pelo menos a parte que vem depois da vírgula) eu fui, depois de muito tempo, para o interior visitar a família e os amigos. Por isso, acredito que essa é uma boa oportunidade para falar de coisas que a gente só consegue ver nessas mágicas cidadezinhas de 100 mil habitantes:

Cachorro-quente
Não há como comparar o sanduíche feito de salsicha das pracinhas do interior com os lanches da capital. A começar pelo pão, que lá vem todo fofinho e cheirando a forno. E a gente come sentado em bancos de praça mesmo, com um céu danado de bonito, cheinho de estrelas pra deixar o hot-dog ainda mais saboroso.

Cachorro mesmo
Os cachorros do interior são muito felizes. Não têm essa frescura de pet shop a toda hora e até a poodle da minha mãe, que vive dentro de casa, tem garantido o seu direito de ir e vir sem coleira por um quintal enorme, com grama de verdade que quando é cortada deixa a casa inteira com um cheirinho herbal.

Vizinhos
Todo vizinho que se preze tem, no interior, uma meia dúzia daquelas cadeiras de ferro e plástico colorido para colocar na varanda ou na calçada e ficar "tomando a fresca" com o pessoal da rua. A criançada fica zoando com a bicicleta, a bola, os patins enquanto os mais velhos papeiam sobre o dia, a noite, o fulano, a sicrana e assim vão vivendo felizes as suas vidas.

Chuva
Quando chove no interior, a gente nunca sabe o que é mais gostoso: o cheiro de terra molhada ou a aventura de correr pelas ruas e se molhar pra valer, enquanto a mãe da gente espera com um banho bem quentinho e uma toalha felpuda.

Pão feito em casa
Verdadeira mania na minha cidade, essa iguaria só tem esse sabor se é feita em casa mesmo. Padaria não vale de nada nessas horas. E tem coisa mais gostosa do que passar manteiga no pão saído do forno e comer com um café passadinho na hora na casa da mãe da gente? Ah, não tem mesmo.

Tardes de domingo
Às vezes melancólicas demais para o meu gosto, é nas tardes de domingo que você consegue perceber que realmente está no interior. Logo depois do almoço, o silêncio reina absoluto e, se você sai na rua, pode encontrar alguns cães e gatos estirados no meio do asfalto, fazendo a sua "sesta" enquanto nas casas ouve-se o barulho do lavar dos pratos e nas esquinas alguns homens fumam pacientemente seus cigarros. Nas tardes de domingo é possível suspirar por duas saudades diferentes: a saudade da cidade grande e sua inesgotável correria que chamamos de vida, e a saudade da vida no interior, que não é senão saudade de um tempo que não volta mais.

Blog vazio, oficina do diabo

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Esses dias que passaram foram tão corridos que não pudemos colocar alguma coisa realmente prestável nesse blog. E preferimos não colocar nada a encher a internet de (mais) besteira.
O fato curioso da semana é que recebemos vários e-mails de pessoas que sentiram a nossa falta e um, especial, nos pedindo conselhos.
Achamos que conselho não é coisa que se dê, assim de graça, ainda mais vindo de gente tão sábia quanto eu e Mel, mas... ah, esses assuntos do coração são tão interessantes... A gente acha que aprende a cada dia, com cada pessoa que cruza o nosso caminho, então vamos publicar aqui o e-mail da leitora e nossa resposta, que pode valer ou não, mas que é de coração.


"Se vocês forem me dar todos os conselhos que preciso, vão passar pelo menos metade das suas vidas escrevendo.
Mas vamos lá, né?
No caso, tenho um namorado que gosta muito de mim, que quer casar, mas no momento, não tenho muita certeza do que eu sinto... Acho que tenho mais certeza do que eu não sinto. Acontece que além de estar confusa, ainda tem os "casos"... Na realidade, só um caso real, os outros ainda estão na tentativa, mas é sempre bom deixar na manga... Isso só prova uma coisa: estou com a bola toda e meu namorado não é o homem da minha vida, porque se fosse, não estaria me interessando por outros.
O pior de tudo é que o cara que está virando minha cabeça também tem namorada... Mas ele mexe muito comigo e tenho certeza que mexo com ele também. A gente se trata como namorados... muito estranho... Ele me liga várias vezes por dia, fala que tem saudade, que eu faço falta... Nem parece que existem outras pessoas na nossa vida. Hoje ele me disse que já amou muito a namorada, mas agora está confuso... Acha que se acomodou e não sabe se vale a pena continuar com o namoro. Claro que ele está com a mesma dúvida que a minha, e pelo mesmo motivo. Acho que o que a gente sente é muito forte... Acho não, é muito forte. Ao mesmo tempo, que teria coragem de jogar tudo pro alto pra ficar com ele, tenho medo de me magoar depois e de estar fazendo uma enorme besteira. Mas como não sou muito de pensar pra agir, estou quase fazendo isso. Por isso, esse fim de semana, quero ficar sozinha de verdade, pensando no que eu vou fazer, nas pessoas que estão envolvidas e em todas as consequências que qualquer atitude minha pode causar. Até que pra uma pessoa impulsiva e ansiosa, estou me controlando bem.
E agora? Será que estou sendo radical? Será que estou agindo mais com o coração do que com a razão? Ou será que estou tentando fugir, mais uma vez, de um compromisso sério? Parece papo de homem que só quer saber de galinhar, né? Mas não é nada disso... Na verdade, gosto muito da minha liberdade. E às vezes acho que é muito melhor ficar sozinha."

Coincidência ou não, cara amiga, nós já passamos algumas vezes por isso. E essa parece ser a dúvida do século: quem consegue domar o coração? Pior ainda: em tempos modernos, o que acontece com os relacionamentos?
Antes de mais nada, devemos avisar que somos suspeitíssimas para falar sobre o assunto. Primeiro porque adoramos namorar e segundo porque uma de nós é sagitariana e preza muito a liberdade.
Então vamos começar a falar dela, a liberdade. A sagitariana aqui diz que ser livre é fazer aquilo que você considera legal para sua vida, independentemente do que os outros digam. Já deu para perceber onde vai parar esse conselho? É mais ou menos isso: faça aquilo que você escolheu para você. O namoro não está legal? Mude. Não deu certo? Se mude.
Claro que é muito legal ouvir a opinião de pessoas sensatas (como nós duas, claro), mas muito mais legal é aprender a ouvir a você mesma, entender o que está acontecendo, se questionar se isso é legal, se essas são as escolhas certas.
Trocando em miúdos, a gente quer dizer que tudo o que você está perguntando é muito pessoal e só você tem as respostas. Mas queremos dizer também que você deve cuidar MUITO bem de si mesma. Em tudo o que fizer. E se alguma coisa está te incomodando e vai contra as suas convicções, faça mesmo o que você está pensando em fazer: fique sozinha, converse consigo mesma. Acreditamos muito que a Grande Verdade mora dentro de nós mesmos (nós, as pessoas do bem).
Ei, acabamos de perceber: você já tinha a resposta!!! Ok, pode passar uns dez contos aqui pra gente. Já avisamos que conselho não é de graça.

Os grandes monstros da nossa infância

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Mel, lendo você falar da fada do dente, me lembrei de várias criaturas que encantaram a minha infância. Mas há outras, que foram até mais importantes para mim: os monstros que me trazem mais saudade do que medo. Fiz um resumo dos que considero os principais e divido aqui com você:

Homem do saco
Esse realmente me assustava. Acho que os nossos pais inventaram a história para que não saíssemos de casa sozinhos (coisa que no meu caso não adiantou nadica de nada). Em todo caso, toda vez que mencionavam o sujeito, eu imaginava um mendigo barbudão, velhinho e com um saco cheio de criancinhas nas costas. Mas imaginava que o saco era tão grande que dava pra jogar baralho dentro dele, brincar de bola, boneca e outras mil coisas com a galera de dentro.

Bicho-papão
Nunca consegui imaginar essa criatura muito bem, mas, se monstros existem, taí um deles. Também não era de uma hora para outra que ele aparecia. Eu precisava, no mínimo que alguém cantasse sua musiquinha para que eu visualizasse esse primo feioso do Geleca.

Bicho-tutu
Era uma versão ainda mais incógnita do bicho-papão. Poucas pessoas falavam nele. É por isso que acredito que esse devia ser muito, mas muito feio mesmo.

Mula-sem-cabeça
O clássico cavalinho com uma chama que saía do pescoço rondou, e muito, a minha vidinha de criança. Como eu nasci e cresci no interior, sempre tinha uma empregada, que tinha morado em algum sítio, para me contar as artimanhas da mula. E nessa dava para acreditar, porque eu sempre via as marcas de sua pegada nas estradinhas de terra da pacata Assis, a cidade dos três "esses".

O Saci
Que personagem do Monteiro Lobato que nada. O saci era um monstrinho que dava nó nas roupas que adormeciam no varal e chupava o ovo das galinhas, que ficavam piando a noite inteira, tadinhas. Não adiantava meu pai falar que tinha sido a raposa, eu sabia que era o danadinho.

Lobisomem
Pode até ser que alguém tenha uma explicação para o meu medo (que dura até hoje) desse ser maléfico. O lobisomem é um homem bem peludo, com sérias tendências caninas, e que vaga pelas noites de lua cheia. Dizem que é possível matar o bicho com uma bala de prata, mas como sou a favor do desarmamento fico na mesma. Também dizem que, para reconhecer um lobisomem, basta observar as sombrancelhas dos homens: se elas forem unidas (atenção, monocelhas!), há uma grande chance do carinha ser meio cachorro, literalmente.
Pelo sim, pelo não, detesto ouvir aqueles uivos solitários no meio da noite e, quando isso acontece, peço para o meu namorado conferir se as portas estão realmente trancadas.

Carpincho
Vocêm lembram do Grilo Falante? Era assim que eu imaginava ser o Carpincho. Ele não era exatamente um mostro, mas fazia uma coisa monstruosa: contava tudo o que a gente fazia de errado para os nossos pais. Papai é boliviano e me saiu com essa no dia em que comecei a entender que era possível fazer algumas artes sem que ele ficasse sabendo. Esse foi um monstrinho que passou de pai para filha. Depois de um tempo, fiz um trato com o Carpincho: ele não me dedurava e eu falava para o meu irmãozinho não fazer nenhum besteira, senão... um grilinho verde ia me contar tudo!

Betty?

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Cara amiga, ainda bem que você não usa óculos e nem tem aquela franjinha falsa...
Hoje vou escrever bem rapidinho, porque o dever (ops, o ballet) me chama. E só um adendo: meu professor disse que ia montar o Lago pra gente. Antes que pudéssemos sonhar em ser cisnes esvoaçantes, ele disse que, do jeito que a coisa vai, vamos acabar dançando o Lago Ness (nunca leve a sério um professor de ballet, minha cara).
Fico muito feliz por participar da sua vida e, parafraseando a Vanilda, sei como você se sente: "com mariposas no estômago"!
Beijo grande!

Amiga da onça e de vários outros bichos

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Sei que em uma turma grande de amigos há sempre um ou outro que tem um parafuso a menos. Acontece que na minha turma NINGUÉM é normal. Mas não mesmo!
O que dizer de amigas que se tratam carinhosamente por "vacas", mas no sentido literal da palavra, o bicho ruminante que faz muuuu?
Tenho uma amiga que tem um morcego morando na janela, uma amiga que me disse, ainda hoje, que "se ansiedade fizesse nascer pêlo, ela seria um orangotango" e uma amiga que guarda todo e qualquer guardanapo na bolsa, para não desperdiçar o papel que matou algumas centenas de pobres árvores (com essa sou obrigada a concordar). Tenho também um amigo que botou fogo no meu cabelo e um namorado que imita o Olivier Anquier, na cozinha.
Mas nada, nem ninguém, se compara à minha amiga Vanilda - de onde surgiu o verbo vanildar.
Vanilda é daquelas criaturas tão boas de espírito, que leva as nossas brincadeiras ao pé-da-letra, com sua sabedoria de criança que cresceu antes do tempo.
Na época do colegial, diziam que ela tinha nascido de 18 meses. O irmão fazia coleção de unhas cortadas em um potinho de filme e a mãe dela, - uma francesa que adotou o Brasil para morar - acreditava que lagartixas eram jacarés bem pequenininhos. Miniaturas de jacaré.
Bichos, aliás, eram a diversão da família. Um vez, estávamos todas na casa de Vanilda, era noite e resolvemos ficar dentro de casa, pois alguns morcegos sobrevoavam o quintal. Quando a mãe de Vanilda nos perguntou por que não estávamos na piscina, e respondemos que os morcegos estavam lá, ela perguntou, com muita tranqüilidade, se eles estavam nadando.
Mas o verbo vanildar não vem daí. Vem do fato da Vanilda sempre falar a coisa certa no lugar errado e vice-versa.
Certa feita, Vanilda encontrou uma amiga que fazia aniversário e tinha tido a foto publicada na coluna social do jornal da cidade. Feliz por ter a oportunidade de comentar o fato, ela me sai com o elogio "nossa, mas você saiu tão bonita na fotografia" seguido de um "nem parecia você", que provavelmente acabou com a festa da garota.
Para ela, o Pacato, tigre do príncipe Adams, se transformava no Velho Guerreiro, no desenho do He-Man, e aquele filme lindo com o Johnny Deep era o "Edgard Mãos de Cenoura". Mas tudo isso afirmado com muita seriedade e categoria. Lembrar nomes não era mesmo a sua especialidade: um menino que a gente chamava de Gato Seco era para ela o Gato Preto e acho até foi por um castigo felino que uma vez ela foi atacada por uma gata. Ficou toda arranhada. Lembro que a gente cantava, nessa época, o "Atirei o pau no gato", mas com o ritmo de "Another brick in the wall", do Pink Floyd, porque a gente sempre gostou de rock'n'roll.
Vanilda só tem tamanho - coisa que falta em mim. Um dia de junho, um amigo muito empolgado com as comemorações da festa junina resolveu atirar uma bombinha nos nossos pés, no intervalo das aulas. Quem adivinhou que ela arrancou um chumaço do meu cabelo com as mãos enquanto berrava acaba de ganhar um saco de 7 Belo. E se alguém conseguir imaginar a figura dançando ballet, tem que imaginar também a Vanilda fazendo o sinal de jóia para um amigo na platéia (o incendiário que pôs fogo no meu cabelo).
Quando começamos a crescer, ela foi a única amiga minha que jogou pedras na casa do garoto que paquerava. Mas, em compensação, eu fui a única que colocou uma faixa com alguns versos de uma música do Cazuza na frente da casa do menino por quem estava apaixonada. Quero dizer, eu mesma não coloquei. Apenas tive a idéia e pedi para duas amigas colocarem. Uma delas foi a Vanilda. No meio de todo o meu nervosismo, com o coração palpitando de emoção, lembro dela sentada no meio da rua escura, com a faixa na mão, um banquinho na outra, rindo muito até com vontade de fazer xixi, enquanto a outra amiga (que vai ter um capítulo à parte nesse blog, aguardem) tentava arrastá-la para cumprirem a missão e eu implorava, atrás de uma moitinha, para que elas terminassem com aquilo porque o menino ia chegar e pegar as duas em cima do banquinho, amarrando o pedaço de pano na árvore e eu ia ser descoberta no meu esconderijo, com o coração aos pulos, e lá se ia o meu segredo de liquidificador.
Vanilda também foi a amiga que dividiu um choro muito triste por termos perdido nossas cachorrinhas de estimação. E, de nós, foi a que levou os bichos mais a sério porque todas as meninas queriam ser veterinária, ou ter uma fazenda para colocar todos os vira-latas das ruas, mas só ela estudou Biologia de verdade.
É por essas e outras que a gente sente tanta saudade dela. E que fiz questão de escrever sobre essas lembranças dos tempos tão legais que passamos juntas.

Música dos outros

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Que coisa boa ter boa música tão perto de casa. Mel, fiquei até com inveja de você, já que o máximo que escuto do meu apartamento é o sonoro ¿laranja pêra do rio, mexerica poncã, mamão papaia¿¿ do caminhão de frutas que foi contratado pelos meus inimigos para me enlouquecer.
Mas isso agora, depois que a vizinha de baixo se mudou. Na época da Bianca, a gente ouvia reggae todo dia. Ouvia e sentia o cheiro também, já que o som vinha acompanhado de um fuminho fedido.
Mas também tenho uma história boa sobre a música dos outros. No verão de 96, fui com meu pai e umas amigas para Paúba, minha praia preferida do litoral de São Paulo. Numa noite bem quente, enquanto eu e as meninas nos preparávamos para sair, começamos a ouvir um som muito estranho, como se o mar estivesse chorando e o vento soprando um mistério no ar. Aquilo foi aumentando e começou a ficar bonito, melódico. Começamos a prestar cada vez mais atenção, maravilhadas e hipnotizadas pelo barulho, que já era uma música. Queríamos saber de onde vinha e corremos para a varanda da casa. Os vizinhos faziam o mesmo, todo mundo sorrindo e quase cantando junto aquela melodia tão bela, aquele som que parecia vir das montanhas para nos encantar. E as pessoas começaram a sair de suas casas, íamos dançar todos na rua!
Resolvemos descer as escadas correndo, quando o barulho começou a ficar ensurdecedor. Foi então que demos de cara com o meu pai, do lado do CD player, praticamente surdo, e de olhos fechados, ouvindo no volume máximo um CD que acabara de comprar, sem se dar conta do momento mágico que acabara de proporcionar. A noite acabou com gostosas gargalhadas.

Impressões

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Mel,
Por que uma terça-feira tão cinza assim? Será que para me lembrar daquele texto USE FILTRO SOLAR?
¿É quase certo que os problemas que realmente têm importância em sua vida são aqueles que nunca passaram pela sua mente, tipo aqueles que tomam conta da sua mente às 4 horas da tarde de uma terça-feira ociosa¿, dizia o texto, e sempre me lembro dele às terças-feiras. Assim como me lembro de olhar para o relógio, sagradamente, todo dia às 16h08. Mas isso, Mel, é por sua causa.
Bom, apesar do texto, de ser terça-feira, e do dia estar tão tristinho, ele não foi nada ocioso. Escrava Isaura baixou em mim, e a trilha sonora do dia foi aquele famoso lelê, lelê, lelelelelelê¿ Melhor assim, acabou mais rápido! Mas por isso vou escrever rapidinho, duas coisas muito importantes:
1 Não fique achando que é você. É o dia.
2 Uma amiga minha me escreveu uma carta interessante. Lembrei da gente e fiquei tentando achar um ponto em comum. Depois de duas horas, descobri: somos todas morenas. Despeitadas, claro, mas morenas. Isso não quer dizer alguma coisa?

November Rain

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Mel, realmente meu fim se semana foi bom, mas tão bom que teve até trilha sonora. Fui ao Parque do Ibirapuera com o Beto e assistimos à Orquestra Filarmônica da Rádio de Hannover, que encerrou a apresentação com a música do filme Guerra nas Estrelas. Tinha até fã-clube Jedi na platéia. Terminei meu domingo com o especial Maria Rita, que passou na TV. Não sou autoridade no assunto, mas, estranhamente, me senti feliz por não conhecer tão a fundo as músicas de Elis. Assim posso gostar da Maria Rita sem nenhum pretexto saudosista e com uma emoção novinha em folha.
Mas, vamos falar dessa coisa que se chama casamento. Meu Deus, as pessoas todas resolveram casar. Não bastava ter que trabalhar com, pelo menos, três pessoas que estão juntando as panelas? Agora você? Meu Deus, meu Deus! E o pior é que só consigo pensar que, apesar das dificuldades, altos e baixos, istabilidade e confusão de sentimentos que um casamento traz, essa vontade de estar junto é sublime. Misto de coragem, pele, amor, sexo e rotina, quando a gente encontra a pessoa certa quer mais é ficar junto mesmo.
Sabe, ainda não sei quando vou entrar nessa fria, mas tenho tudo em mente, até a música que me levará ao altar, que dá título ao meu texto. O único problema é que se eu pensar muito na letra dela, vou acabar louquinha de pedra. Ela diz que ¿nada dura para sempre, nem mesmo a chuva fria de novembro¿. Acredito tanto nisso, porque sei que as coisas ruins acabam indo embora, se a gente quer mais é ser feliz. Mas sobre o amor não sei falar. Já disseram que é chama, que é fogo, ferida, vício, eterno, infinito. Alguém pode explicar melhor, por favor?
Mel, a minha teoria para o assunto é a seguinte: já banalizaram demais o amor. Portanto, minha querida, pense. Mas pense muito, até fundir a cachola. Vamos deixar que as histórias de amor da nossa geração sejam bem bacanas. Que elas sejam reais, mas não menos doces. Certas, não chatas, e com um quê de rock¿n¿roll. Que, aliás, sabe cantar o amor muito bem.

Beijo grande.

Dancei

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Ontem, depois da minha aula de ballet, iniciei uma reflexão sobre as pessoas que dançam. Não digo o ballet clássico que a gente faz desde pequenininha e depois fica achando lindo nas fotos que a mãe guarda, mas a dança de um modo geral.
Claro que, uma hora ou outra, vou puxar sardinha para as sapatilhas de ponta, afinal me considero uma vencedora por não ter desistido do ballet quando a aeróbica virou a sensação e quando todas as minhas amiguinhas diziam que era muito parado. Queria ver as fofas fazendo 32 entrechats quatre, ah como queria.
Mas o fato é que as pessoas dançantes parecem carregar consigo uma aura de felicidade e serenidade ímpar. Como se soubessem exatamente onde moram os sentimentos, de tanto que conhecem o corpo e a capacidade dele se expressar.
E pra dançar é preciso tão pouco. Vale até aquelas aulas de academia que ensinam os passinhos de Flashdance. A gente fica se sentindo a própria Jennifer Beals ou então a Olivia Newton John, em Xanadu. Lembram? Ah, se eu tivesse um par de patins agora¿
Alguém já reparou que algumas atrizes têm um quê de bailarina? Pois sim, Cláudia Raia, Betty Faria e Carolina Kasting, pra citar algumas, fazem parte do seleto grupo de pessoas que dançam. Ponto para elas.
Alguns professores dizem que há um ponto, mais ou menos 4 cm para baixo do umbigo, que é o nosso centro de equilíbrio. Acredito nele como quem acredita que a vida pode ser muito boa. Quando quero me encontrar, naqueles dias terríveis de incertezas, chuva e TPM, uma boa aula de ballet é o melhor remédio. Mas valeria uma baladinha regada de boa música dançante. Melhor ainda sem incertezas, chuva ou TPM. Dançar é minha maneira de rezar.

Explicações

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Querida, parece que bebemos todas mesmo, mas pelo menos vc tinha o mel a seu favor. Bom, já que começamos a falar como duas doidas desvairadas, e no fundo não estávamos esperando tanta receptividade, acho que é hora de falar para os nossos leitores (sim, já temos leitores) sobre este blog.

Caros leitores: somos duas desocupadas que não têm mais o que fazer e resolveram deixar que as idéias transbordassem cérebro afora.
Antes fosse assim. Na verdade, somos duas revisoras de texto que, cansadas de corrigir os outros, resolveram dar a cara pra bater, botar as asinhas para for a ou qualquer coisa que o valha.
Amantes da literatura alternativa, garimpamos velhas histórias, alguns e-mails trocados (alguns nem são nossos, desculpa aí) e resolvemos contar uma história. A história de duas amigas, suas alegrias, tristezas (xô, sai pra lá), e que querem, sobretudo, matar as saudades. Vai ter a cara de um diário. Mas nem tanto.
Queremos agradecer o e-mail galanteador e muito sincero (assim esperamos) do Mel Gibson e aproveitar para convidá-lo a participar desse blog. A opinião masculina é muito bem-vinda!

Pronto! Agora podemos voltar ao nosso bate-papo. Mel, você disse que tinha que me falar da sua prima. Está tudo bem?
Beijo grande!

A solução

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Mel, você ouviu dizer que esse domingo foi o dia de número 1.001 do século 21? Segundo a numerologia, o número 1.000 tem um significado de mudança. Ou seja, as portas estão abertas para uma nova atitude!!! Há, inclusive, um mantra que ajuda no processo: górbin orduefême bendizéges têivel lái. Não entendo neca desse assunto, mas não sou de duvidar das coisas que não conheço – especialmente se essa coisa é boa!
Onde quero checar com essa história? Você tem até quinta-feira para fazer alguma coisa diferente da vida, nem que seja assistir à novela (me lembre de falar sobre isso – achei uma solução para o problema).
Mel, mas tem que pensar que essa coisa diferente tem que trazer felicidade.
De que adianta viver uma louca paixão e se machucar depois? Nós já passamos por isso, ok, valeu a pena, mas também serviu de lição. Por outro lado, de que adianta deixar todas as loucuras de lado e se arrepender depois das coisas que não fizemos?
Ai, ai, acho que os patos, gansos, curiós e galinhas estão dominando nossa vida, que já está mais para granja.
Já que não te dei nenhuma resposta para o problema ovíparo, aqui vão alguns pensamentos que assolaram minha tarde de hoje:
1 – O ar condicionado faz um mal danado.
2 – Existem muitos tipos de amigos.
3 – Minha vida está mudando muito e ainda não falei disso com ninguém.
4 – Não sei se alguém quer saber da minha vida.
5 – Não cortarei mais os cabelos.
6 – A vida é boa.
7 – É sempre bom ter notícias suas.
8 – Temos trabalhado demais.
9 – Poderia escrever mais mil pensamentos.
10 – Até quinta-feira, quem sabe?

Beijo grande.