Mashup

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Eu adoro música misturada e já falei disso aqui. E, não importa se você é fã de uma das bandas, de todas ou de nenhuma, o resultado da mistureba costuma ficar muito legal e divertido.
Descobri hoje o DJ Earworm, que conseguiu a improvável proeza de colocar num só pacote U2 (One), Beatles (Come Together), Mariah Carey (We Belong Together) e Diana Ross (Someday We'll Be Together).

Dá uma olhada:


Mal comparando

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Não tem jeito, vivemos em um mundo em que comparar ainda é ter a medida da loucura que praticamos ou que praticam com a gente. É por isso que, bem ou mal, acabamos fazendo comparações e usando todo dia o famigerado ctrl+c ctrl+v, mental ou não, para ter parâmetros e algum senso de ridículo.

Bem, tenho pensado muito nisso há uns dias. E venho ruminando as ideias, até que hoje elas, devidamente digeridas, saíram de dentro de mim depois de ver isso aqui:



Pausa para a vergolha alheia ir dar uma volta na esquina.

Eu tenho muito medo das coisas copiadas. Tenho mesmo. É como aquela campanha da adidas, "Falsificações machucam de verdade". No caso dos calçados, a comunicação foi feita com o intuito de alertar para os problemas que as imitações causam aos pés de quem usa. Mas, se a gente começar a pensar em tudo o que é feito sem raiz, vai bem mais longe. Outro dia eu fui com amigos ao Hopi Hari. Uma tarde divertidíssima, porque a gente riu da própria desgraça. É muito chato estar aqui no Brasil, ser brasileiro de sangue e alma e ficar comparando com os Estados Unidos, com a Europa e o escambau. Mas abriram precedentes, essa que é a coisa. Deram espaço. Pediram. Então toda hora a gente se pegava olhando pros brinquedos do parque e falando que na Disney é diferente. Caraca, e é mesmo. Triste constatação. Porque na Disney não dá medo do treco cair. Porque não tem aquela fila ingrata sob o sol. E não tem emo furando a fila descaradamente sem ninguém falar nada.

Mas, voltando ao clipe, o que são as Sexy Dolls senão uma falsificação barata, daquelas que nem na 25 de março a gente encontra, do grupinho que até então eu não tinha visto motivo para ser copiado Pussycat Dolls? As "originais" americanas têm mais de 10 anos de estrada e começaram como um conjunto de mulheres bonitas com um quê de pin-ups e cantavam um popzinho bem safado. Tá, okay. Mas fui dar uma olhada nuns clipes das fias. Elas rebolam, elas dançam na boquinha da garrafa, mas, antes de mais nada, elas cantam. Simples assim. Porque, presume-se que para ser cantora, no mínimo você saiba fazer isso, certo? Bom, e sem contar a superprodução da coisa, daquelas que fazem a Britney ficar com medo de passar por xexelenta.

A versão tupiniquim é formada por Sabrina Boing Boing, Carol Miranda e Julia Paes. A primeira é arroz de festa e viciada em silicone. As outras fazem filme pornô, sendo que uma perdeu a virgindade em cena (olha que coisa banal, não é mesmo?) e a outra namorava a filha da Gretchen. E o clipe? O maiô que elas estão usando não merece o verbo "vestir". E meia-calça bege não devia existir nem no catálogo das meias Kendall.

Bom, eu sei que vou virar uma pessoa rabugenta, mas é que tenho crianças na família e rezo toda noite para que no mundo delas não haja um correspondente pior do que o Trios Los Angeles foi no meu. Mas há, essa é a merda. E o que nos resta fazer é deixar de admirar o que é dos outros e tentar fazer igual, porque não vai dar. É procurar no que é nosso de verdade a beleza das coisas originais e autênticas. Porque se um tênis falsificado machuca, essas bonecas aí no mínimo podem acabar com qualquer brincadeira.

(In)Culta e Bela

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Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam
no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns
anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido,
feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado
nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele:
Um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por
leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os
dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa
oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno
índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo,
pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador
recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente
no andar do substantivo. Ele
usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma
fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para
ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num
vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e
rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam
terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu
ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um
período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não
perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro
que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às
vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias,
parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns
minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia
tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um
perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu
grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do
edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos
nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições,
locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação
tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e
declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por
todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto
adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era
um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa
maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.
Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao
seu tritongo,
propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas:
enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do
substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo
indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um
ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo,
jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua
portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa
conclusiva.


Dizem que este texto é de uma aluna da Universidade Federal de Pernambuco.
Achei incrível.