Espanhóis x Incas

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Mel, é muito bom estar em casa. Ainda mais quando se volta de um lugar tão mágico com muitas histórias para contar, de muita coisa diferente que se viu. Epa, eu disse história? Desculpa, errei. Na verdade, o que posso te contar são lendas, suposições, mitos do que realmente foi Machu Picchu, a cidade mais misteriosa do mundo.
Fiquei surpresa com tudo lá. Primeiro porque comecei minha viagem pela Bolívia, mais precisamente em La Paz - e aí já é o começo da loucura, no bom sentido. La Paz está a 3.600 metros acima do nível do mar, no meio de uma cratera que parece ser da Lua. E tudo, absolutamente tudo, é muito diferente do que os nossos olhos estão acostumados a ver. Na primeira noite, eu e meu namorido quase não dormimos. Mas não foi de emoção, não. A altitude provoca a falta de oxigenação no sangue e um conjunto de sintomas que se chama "soroche". Só o fato de se mexer na cama fazia com que o ar sumisse e por isso, passamos a noite tomando mate de coca, dentro dos nossos sacos de dormir, suspirando, suspirando, em busca de ar.
La Paz é dominada pelas cholas, mulheres que seguem a tradição dos antepassados e vestem aquelas saias coloridas, com inúmeros panos mais coloridos ainda e carregam de tudo dentro deles. De folhas de coca - a planta - a bebês lindinhos que mais parecem indiozinhos.
Em La Paz, conhecemos o Valle de la Luna, um canyon formado de argila desenhada pelo vento e pelas chuvas, e Chacaltaya, onde tive a sensação maravilhosa de afundar na neve a 5.200 metros de altura, quase sem poder respirar!
Saindo de La Paz, fomos em direção ao Peru. Para isso precisamos atravessar o lago Titicaca, que faz divisa com os dois países e mais parece um oceano, de tão grande que é. Conhecemos uma Copacabana que não fica no Rio de Janeiro e que foi quem deu nome à praia carioca mais famosa. Mais algumas horinhas de viagem, uma confusa fronteira e chegamos a Puno, já no Peru.
Os dias aí foram mais quentes por causa da proximidade com o Titicaca. Em Puno também comi o talharine mais gostoso da minha vida, Mel! Dá pra acreditar? Os passeios obrigatórios nessa cidade incluem uma visita às Islas Uros, ilhotas flutuantes e artificiais, feitas pelos nativos com uma planta que se chama Totora, material que também constrói suas casas e seus barcos. Sensação esquisita a de pisar em uma ilha que não está presa em nada, minha amiga!
Depois foi a vez da Isla Taquile, que abriga povos tradicionais do Peru, crianças lindinhas e nenhum cachorro - para minha tristeza. Entre ida e volta, ficamos seis horas viajando pelo rio, o que deixou nossas bochechas absolutamente queimadas pela brisa gelada e pelo sol, que agora estava ainda mais pertinho de nós.
Como toda viagem, há alguns detalhes que não estavam no pacote, mas que não deixam de ser peculiaridades dos lugares por onde passamos. Pois bem, o caso, dessa vez, foi o trajeto percorrido de ônibus de Puno a Cusco, terra de Machu Picchu. Foram os 350 quilometros mais longos da minha vida, já que a viagem durou mais de oito horas e o ônibus parou em cada povoado do caminho, noite afora, onde cholas entravam gritando "choclos con queso", "pollo frito" e "chompas", para oferecer aos passageiros as iguarias a artesanatos da região. Hoje a gente dá risada, mas no dia, eu e o namorido estávamos a ponto de mandar toda aquela gente barulhenta ir catar coquinho. Mesmo.
Depois de tudo, chegamos ao merecido paraíso. Mel, a cidade de Cusco é uma coisa! Não sei nem como descrevê-la porque os detalhes são muitos. Mas imagine ruas de pedra, contruções que mesclam as culturas inca e espanhola e gente bacana do mundo todo andando pelas ruas limpas e absolutamente maravilhosas da cidade. E o melhor, ficamos hospedados em um hostal em frente à Plaza de Armas, principal point da cidade, onde todo mundo encontrava o mundo todo.
E foi assim que passamos o Réveillon. O namorido descende de espanhóis. Eu, dos incas. Em vez de brigar por terra, comemoramos a paz e tudo de melhor que pode existir entre os povos.

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