A cidade sem história

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Mel, no nosso terceiro dia em Cusco, fizemos a viagem até Machu Picchu, que, em quéchua, significa montanha velha. A estrada já é encantadora, porque podemos ver por todo o caminho a face oriental da Cordilheira dos Andes. Esse caminho é conhecido como Vale Sagrado e nele podemos ver algumas ruínas do que poderiam ter sido povoados incas e cidadelas muito bonitinhas com nomes diferentes: Pisac, Urubamba, Ollantaytambo, Chinchero.
Fomos até Ollantaytambo de ônibus e aí pegamos o trem, única maneira de chegar a Aguas Calientes, povoado que leva a Machu Picchu. Um ônibus depois, por uma estradinha em ziguezague que mais parecia um despenhadeiro, chegamos!
É até difícil de acreditar em tudo o que os olhos vêem. Para mim, o mais surpreendente de tudo, mais até do que não saber o que era a cidade, foi notar que Machu Picchu não são ruínas perdidas em cima de uma montanha. Machu Picchu é uma cidade inteirinha, bonitinha e extremamente preservada pelo tempo. Há casas (com banheiro e tudo), praças, "terrazas" para cultivo de alimentos, algumas edificações do que poderiam ser templos, cavernas, degraus, muitos degraus. Tudo está lá.
Daí vêm as perguntas: o que era a cidade? Quem morou lá? Onde foram parar?
Ninguém sabe. Não há pistas do paradeiro dos habitantes, mas pesquisadores acreditam que quando os espanhóis invadiram Cusco, muito provavelmente os habitantes de Machu Picchu tenham descido para ajudar nas guerras, e com isso a população foi desaparecendo. De qualquer forma, quando o arqueólogo americano Hiram Bingham encontrou a cidade, em 24 de julho de 1911, ela parecia ter sido abandonada e seus moradores não teriam deixado vestígios.
Por tudo isso, dizem que a cidade escondida não tem história. São muitas as versões, as lendas e as teorias sobre Machu Picchu. Mas todas elas tornam-se repentinamente menos importantes do que a certeza de que alguém muito civilizado esteve ali. Alguém que sabia construir casas como ninguém, que entendia das plantas, dos animais, do sol e da lua de uma maneira que nós mesmos não podemos entender hoje.

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