Maldita inclusão digital

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Não nasci na era da internet. Aliás, tava bem longe disso. Não existia o telefone celular. Como muitas pessoas na faixa dos 30 anos, tive que aprender a viver num mundo em que a informação chega mais rápido do que o tempo muda. Hoje em dia até o boato vem antes do fato, mas não é sobre isso que vou falar.
Diferentemente dos meus sobrinhos, que nasceram num lugar onde a tecnologia anda na frente de seus próprios passinhos, meu mundo era um lugar muito diferente. E eu não estou tão velha assim, vá. Mas o fato é que de uma certa forma consegui - e tive oportunidades pra isso - acompanhar essa revolução que um dia vai ser comparada à industrial. Sempre tive computador em casa, meus pais sempre que podiam levavam a gente, eu e meus irmãos, para conhecer outras cidades, outras culturas. Tive uma boa formação, acesso a todos os livros e programas que quisesse ver. É, vejo que isso faz uma baita diferença.
Porque só assim posso explicar alguns absurdos que leio na internet e que me fazem praguejar sobre a inclusão digital. Descabido, eu sei, porque todo mundo tem o direito de entrar nessa nova era. O problema é que muita gente, simplesmente, não tem o talento necessário.
O exemplo do dia arrancou risos do pessoal do trabalho. Um infeliz qualquer resolveu publicar em seu blog (veja bem, um blog = diário pessoal sobre determinado tipo de assunto) algumas informações sobre o imposto de renda. Tipo eu chegando aqui e resolvendo falar pra galera: "hey, moçada, vai sair o último lote, fiquem atentos para algumas dicas". Coisa que a gente faz mesmo, porque tá de bobeira, porque leu sobre tal assunto, porque quer fazer caridade ou coisa que o valha. Li a matéria bem explicadinha nesse blog que tinha como tema "atualidades" e posts sobre cinema shows, futebol, notícias, etc. Até aí nada de novo. A minha sorte (ou azar) é que o blog é do Wordpress e logo abaixo do post sobre o IR já estavam abertos os comentários. Então veio primeiro a supresa. Depois a boca aberta ("maldita inclusão digital") e, finalmente, as gargalhadas. Montes delas, ou LOL (Lots of Laughs), como dizem os europeus. Chega a dar pena, mas todo mundo que comentou, veja bem, TODO MUNDO, fazia perguntas diretas ao dono do blog sobre sua situação particular com o leão. Do tipo: "Preciso saber se vou receber a restituição no dia 15 de agosto." Minha vontade de responder veio rápida. Sim, você recebe em agosto. A gosto de Deus, minha filha, que aqui não é centro espiritual e ainda não falo com os mortos, muito menos com a Receita Federal.
Outra: "Quando eu irei receber a minha declaração?". Bom, se você não é a Receita, então nunca. Mas que diabo. Repitam comigo: primeiro você declara. Declaração, certo? Depois você... restitui! E não faço idéia de quando e onde.
Fora o monte de "Gostaria de saber em qual lote ou data que receberei minha restituição do imposto de renda." Ou "ainda estou aguardando sua resposta de quando vou receber, como só faltam dois lotes deve ser fácil saber". Sim, é muito fácil. Senta e espera, que catzo.
E a hors concours: "Quero saber o valor da minha restituição, minha conta é no banco Itaú, agência XXXX, conta poupança número XXXXX."
E depois o Orkut é que te expõe no universo digital. Mas, pensando bem, se não fossem essas pérolas todas, as do YouTube e o monte de bobagem que a gente vê por aí, que graça teria a vida na net? O que vai ser dos meus sobrinhos nativos nesse mundo daqui a uns anos? Eles vão rir de quem, meu Deus?

4 comentários:

Penso, logo escrevo disse...

A tecnologia facilita a vida, mas ao mesmo tempo nos deixa de cabelo em pé!

Patileide disse...

depois dizem que toupeiras não sabem acessar a internet hahahaha

Patileide disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lesma de sofá disse...

Tem hora que a democratização dos meios de comunicação mostra uma face que ninguém quer ver...
bjs