Os mais felizes proprietários

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Já fazia um tempo que eu e o namorido (sim, eu casei, mas continuo namorando meu marido) pretendíamos comprar dois carros. Era isso ou fazer o pobre se levantar da cama muito mais cedo que o habitual só porque a madame aqui resolveu fazer um curso para ser instrutora de Yôga e, num futuro não muito distante, largar dessa vida besta de revisora de textos para entoar mantras num mosteiro qualquer. Bem, também não é assim, mas o fato é que encheu o saco ter um carro só e trabalhar longe de casa. Bom, na hora de decidir que carro eu iria ter… surpresa! Sagitariana que sou, não tinha nenhuma idéia que fosse viável. Eu precisava de um carro um pouquinho maior que meu 206, se não quisesse ouvir toda sorte de desaforos do demais passageiros toda vez que levasse o carregamento de tule para o ballet de Assis, atividade essa que estou exercendo com alguma freqüência a troco de uns trocados. Fora isso eu precisava de um carro bom, bonito e barato. E completo. Só, mais nada.
E daí foi um pega pra capar, querida Mel. Procura daqui, procura dali e nada. Não encontrava o meu carro ideal. Aliás, não encontrava carro algum, já que o do namorido tinha o mesmo perfil e a mesma dificuldade. Mas eis que em mais um dia de trabalho, me deparo com a seguinte frase: “O maior porta-malas da categoria: 510 litros.” Sabe quando você olha para uma coisa todos os dias e não percebe que ela existe? Tipo aqueles maridos que não sabem mais que cor é o cabelo da mulher… Então, isso estava acontecendo comigo. Não! Não com meu marido, que sabe até qual é a posição geográfica das minhas pintinhas. Isso estava acontecendo no meu trabalho. O carro perfeito estava bem na minha frente e eu não conseguia enxergar!
Tá, é difícil aceitar que seu carro será aquele que você xinga todo santo dia nos anúncios da agência onde trabalha. Isso é cuspir pra cima, cair na testa e ainda ter que usar como hidratante. Mas como um passe de mágica, e com o homem da sua vida falando que esse é um carrão, de repente, me vi dentro de um Clio Sedan. Preste muita atenção neste nome, Mel. Clio Sedan. Tá é um Clio… mas ele é sedan!!! Um carro com bunda. E, guardando as devidas proporções, com uma bunda muito maior do que as nossas juntas, amiguinha! 510 litros = uma bunda imensa.
Sobre o carro nas ruas: uma beleza. Nenhum ruído. Tanto que você não percebe que ele está ligado. E daí sai acelerando mais do que devia, distribuindo atestados de que está com um carro novo (mesmo que ele seja seminovo). E isso é tudo que os motoqueiros de São Paulo precisam. De posse desse atestado, eles te fazem um verdadeiro test drive pela Marginal do Rio Pinheiros. Passam buzinando e ameaçando chutar sua porta. Porque sabem que você ainda não se deu conta que o carro é maior, mas não mais largo. Ou então colam na sua traseira enquanto você se confunde com todos os botões novos que fazem a mesma coisa que seu carro anterior fazia, só que em lugares diferentes. De preferência pro lado oposto, como é o caso do limpador de pára-brisa. Deveria haver regra pra esse tipo de coisa. Pára-brisa liga para cima. Ou para baixo, não importa. Mas fazer um Peugeot de um jeito e um Renault de outro me parece briga de francês querendo ser melhor que o outro.
Mas nada, ainda, superou o desafio megaultrablaster que é estacionar um carro sedan. Primeiro, porque todas as vagas do mundo foram feitas para carros sem bunda. Os hatchs. Segundo, porque eu nunca tive bunda. Nem eu nem o carro. E terceiro, e finalmente, porque não sei fazer baliza desde que tirei carta. Tenho preguiça, não gosto, me cansa e não sou a fim de aprender. Pro lado direito ainda vai. Pro esquerdo nem a pau. É, pensando bem, acho que deveria haver regra também pra esse tipo de coisa. A gente não deveria ser mais lesado de um lado do corpo do que outro.
Bom, mas enfim, minha amiga, todo esse desabafo só teve o propósito de dizer que vou sentir falta daqui, de revisar “o maior porta-malas da categoria”, e de fazer os textos legais pra caramba de Renault. E é no meu Clio que vou matar as saudades de tanta gente legal que ficou.

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