Música dos outros

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Que coisa boa ter boa música tão perto de casa. Mel, fiquei até com inveja de você, já que o máximo que escuto do meu apartamento é o sonoro ¿laranja pêra do rio, mexerica poncã, mamão papaia¿¿ do caminhão de frutas que foi contratado pelos meus inimigos para me enlouquecer.
Mas isso agora, depois que a vizinha de baixo se mudou. Na época da Bianca, a gente ouvia reggae todo dia. Ouvia e sentia o cheiro também, já que o som vinha acompanhado de um fuminho fedido.
Mas também tenho uma história boa sobre a música dos outros. No verão de 96, fui com meu pai e umas amigas para Paúba, minha praia preferida do litoral de São Paulo. Numa noite bem quente, enquanto eu e as meninas nos preparávamos para sair, começamos a ouvir um som muito estranho, como se o mar estivesse chorando e o vento soprando um mistério no ar. Aquilo foi aumentando e começou a ficar bonito, melódico. Começamos a prestar cada vez mais atenção, maravilhadas e hipnotizadas pelo barulho, que já era uma música. Queríamos saber de onde vinha e corremos para a varanda da casa. Os vizinhos faziam o mesmo, todo mundo sorrindo e quase cantando junto aquela melodia tão bela, aquele som que parecia vir das montanhas para nos encantar. E as pessoas começaram a sair de suas casas, íamos dançar todos na rua!
Resolvemos descer as escadas correndo, quando o barulho começou a ficar ensurdecedor. Foi então que demos de cara com o meu pai, do lado do CD player, praticamente surdo, e de olhos fechados, ouvindo no volume máximo um CD que acabara de comprar, sem se dar conta do momento mágico que acabara de proporcionar. A noite acabou com gostosas gargalhadas.

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