Há 9 anos hoje seria dia de FICAR, uma feira de nome bem sugestivo na pequena Assis, a cidade dos três esses. Estaria frio e mesmo assim as meninas da Turma do Pacotinho* insistiriam (sem que precisasse muito) para irmos na tenda que a boate mais famosa da região havia montado no meio da lama. E chovia, para ajudar.
Era um tempo obscuro, se é que isso pode acontecer com uma garota de vinte e poucos anos que ainda não sabia muita coisa da vida. Mas sinto que era obscuro porque mais uma vez eu não tinha certeza de nada e via dois caminhos à minha frente: viver ou deixar quieto.
Não é sempre que isso acontece, não é verdade? Do nada, um dia você está quieta, seguindo sua vida, quando de repente acende-se uma luz que nem é a do fim do túnel. Barulho de purpurina. E você resolve mudar tudo. Começa com a decoração do quarto. Compra edredon novo. Depois muda o corte e a cor do cabelo. Roupas novas. Olha de um jeito diferente para os passantes na rua. Acha que vai passar. E não passa. Então você percebe que realmente mudou. Não por fora, mas por dentro. E quer outra vida. Quer outro colo. Quer outro chão, talvez uma nova cidade.
Bom, essa parte da cidade eu acho que quis porque por alguns dias eu consegui ser a Joana D’Arc local. Até hoje me lembro de gente me apontando o dedo e perguntando se eu tinha surtado mesmo ou se não valia nada. Duas opções bem doloridas para quem acaba de terminar um namoro e está apaixonada por outro, hein? Duas mentiras que você, por instantes, acha que são verdades e se culpa infinitamente. E depois de tudo feito, não tem com quem dividir. Nem com as amigas, que te dão colo, mas no fundo têm certeza que você surtou, não vale a tequila que bebe, mas que tudo bem.
Não, esse texto não tem nada de melancólico. Eu não tenho saudade dessas coisas e elas nem me afetam mais. Acho engraçado lembrar dessa historinha que recomeçou há 9 anos e que parece um filme de Hollywood, passado naquelas cidadezinhas insossas onde o tédio é o responsável pelas coisas que acontecem depois que todo mundo está dormindo.
Bom mesmo é lembrar daquela noite, da tenda furada que era, de sair correndo na chuva, do rímel escorrendo no rosto, dos beijos escondidos e de ter escutado com muito medo uma pessoa dizer pela primeira vez na minha vida de que eu o encantava. Bom mesmo é saber que viver sempre vai valer a pena.
*Eu e mais meia-dúzia de loucas que faziam Unesp adquirimos o hábito de tomar pó de guaraná para conseguir agüentar uma balada inteira. A gente tinha que estudar – muito! –, eu fazia ballet, participávamos de congressos, feiras e de tantas outras atividades acontecendo ao mesmo tempo, que não havia jeito mesmo de ficar acordada, viva, sã, salva e sóbria se não fosse apelando para isso. E não existia energético ainda (vai, pode chamar de véia). Então, saíamos da casa da bióloga da turma já prontas e despertas, depois de virar um copo do pó da frutinha – que ela havia trazido da Amazônia. O duro é que mulher fala demais. Uma das loucas gritava no meio da balada que “o pó estava fazendo efeito”. Não deu um mês para um amigo me chamar de canto e perguntar se a gente estava só cheirando ou se tava injetando também. E eu, na maior ingenuidade, pensando em que moda era aquela de injetar pó de guaraná. Bom, foi assim que surgiu o apelido de Turma do Pacotinho. Ou das meninas que por duas vezes foram brindadas com lançamentos gratuitos de milho sobre suas cabeças. Mas essa é outra história.
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2 comentários:
seu post é praticamente uma rapsódia... nem sei por onde começar...
mudançar fazem parte da vida...mas isso é chover no molhado ( como a tenda da sua historia) e todos ja sabem.... é que atualmente eu tenho trabalhado forte a questao de mudar do trabalho..
Sobre a turma do pacotinho... olha eu acho que tenho algum hormonio rebelde no meu organismo... sempre que eu tomo essas porcarias de guarana etc..eu durmo ou nao faz efeito... sera que eu comprei guarana batizado??
vai saber ??
Esse texto é o mais lindo que eu já vi e li.......Tabajara
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