A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraíso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha é não poder ser imitada.
(Preciso dizer de quem é o texto? Ok, sei que estou ficando repetitiva.)
Lost in Translation
Aprendi na faculdade de Letras que algumas coisas não devem jamais ser traduzidas. Poesia é uma delas. Procurar palavras correspondentes entre um idioma é outro é perda de tempo, assassinato de sentidos, e por isso quando não há outra saída (porque não dá pra entender todos os idiomas e expressões do mundo) eu apelo para as versões de tradutores consagrados, de boas editoras e melhor ainda se for uma versão de um escritor brasileiro que não tentou fazer a coisa ao pé da letra, captando o sentido e não a palavra literal.
Dica do dia: fujam da Ediouro e das letras de músicas traduzidas na internet. Ok, se você não sabe o idioma, pode tentar o site Vagalume, mas ainda assim não acredite naquilo que está vendo. É, como eu disse, matar todo o trabalho ou a viagem daquele que escreveu a canção.
Tenho provas do que estou falando. Outro dia, embalada pela trilha do espetáculo Alegría, do Cirque du Soleil, fui pegar a tradução da canção-tema, que originalmente é em inglês, italiano e espanhol. Não sou nenhuma expert nos idiomas, mas tenho noção de um e de outro (bem mais de uns que de outros) e por isso fiquei chocada com a tradução que deram para a seguinte frase: "Alegría, come un assalto di gioia". É certo que as línguas latinas se assemelham muito, mas alguém aí já ouviu falar em falsos cognatos? Com certeza o cara que traduziu o trecho como "Alegria, como um assalto de jóias" não. Aliás, ele também não deve morar nesse planeta, a menos que seja ele o assaltante. Não é preciso pensar muito, apenas ler muito para entender que as palavras têm significados ilimitados. Portanto, traduzir assim é deixar a coisa menor, errada, e tolher dos leitores a possibilidade de fazer coisa melhor dentro de suas próprias cabeças.
Outra música que vem preenchendo meus dias, desde o começo das primeiras batidas, que me dão trecos e por vezes parecem ser as do meu próprio coração, é Love Will Come Through, do Travis. Fui tentada, como sempre, a ver as versões que o Google apresenta e claro que me decepcionei.
Por isso coloco aqui a canção e digo desde já que o que segue não é uma tradução, mas apenas um olhar sobre o que poderia ser. Faço isso porque ler que "burning a hole" seria "queimando um buraco" pareceu demais pra minha cabeça.
Enjoyem :)
Love Will Come Through
If I told you a secret
You won't tell a soul
Will you hold it and keep it alive?
Cause it's burning a hole
And I can't get to sleep
And I can't live alone in this lie
So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain
If the world isn't turning
Your heart won't return
Anyone, anything, anyhow
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
Well I stand at the crossroads
Of highroads and lowroads
And I got a feeling it's right
If it's real what I'm feeling
There's no makebelieving
The sound of the wings of the flight of a dove
Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain
If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down
If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
Love will come through
O amor vai chegar
Se eu te contar um segredo
Você não dirá a ninguém?
Você vai guardá-lo e mantê-lo vivo?
Porque está fazendo um buraco
E eu não consigo pegar no sono
E eu não consigo viver essa mentira sozinho
Então olhe pra cima
Deixe pra lá
Não olhe para baixo
Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito
Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando
Fico parado nas encruzilhadas
De rodovias e estradas
E sinto que está tudo bem
Se o que estou sentindo é verdadeiro
Não há faz-de-conta
No som das asas do vôo de um pássaro
Deixe pra lá
Não olhe para baixo
Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito
Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando
Dica do dia: fujam da Ediouro e das letras de músicas traduzidas na internet. Ok, se você não sabe o idioma, pode tentar o site Vagalume, mas ainda assim não acredite naquilo que está vendo. É, como eu disse, matar todo o trabalho ou a viagem daquele que escreveu a canção.
Tenho provas do que estou falando. Outro dia, embalada pela trilha do espetáculo Alegría, do Cirque du Soleil, fui pegar a tradução da canção-tema, que originalmente é em inglês, italiano e espanhol. Não sou nenhuma expert nos idiomas, mas tenho noção de um e de outro (bem mais de uns que de outros) e por isso fiquei chocada com a tradução que deram para a seguinte frase: "Alegría, come un assalto di gioia". É certo que as línguas latinas se assemelham muito, mas alguém aí já ouviu falar em falsos cognatos? Com certeza o cara que traduziu o trecho como "Alegria, como um assalto de jóias" não. Aliás, ele também não deve morar nesse planeta, a menos que seja ele o assaltante. Não é preciso pensar muito, apenas ler muito para entender que as palavras têm significados ilimitados. Portanto, traduzir assim é deixar a coisa menor, errada, e tolher dos leitores a possibilidade de fazer coisa melhor dentro de suas próprias cabeças.
Outra música que vem preenchendo meus dias, desde o começo das primeiras batidas, que me dão trecos e por vezes parecem ser as do meu próprio coração, é Love Will Come Through, do Travis. Fui tentada, como sempre, a ver as versões que o Google apresenta e claro que me decepcionei.
Por isso coloco aqui a canção e digo desde já que o que segue não é uma tradução, mas apenas um olhar sobre o que poderia ser. Faço isso porque ler que "burning a hole" seria "queimando um buraco" pareceu demais pra minha cabeça.
Enjoyem :)
Love Will Come Through
If I told you a secret
You won't tell a soul
Will you hold it and keep it alive?
Cause it's burning a hole
And I can't get to sleep
And I can't live alone in this lie
So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain
If the world isn't turning
Your heart won't return
Anyone, anything, anyhow
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
Well I stand at the crossroads
Of highroads and lowroads
And I got a feeling it's right
If it's real what I'm feeling
There's no makebelieving
The sound of the wings of the flight of a dove
Take it away
Don't look da-da-da-down the mountain
If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
So look up
Take it away
Don't look da-da-da-down
If the world isn't turning
Your heart won't return anyone, anything, anyhow...
So take me, don't leave me
Take me, don't leave me
Babe, love will come through, it's just waiting for you
Love will come through
O amor vai chegar
Se eu te contar um segredo
Você não dirá a ninguém?
Você vai guardá-lo e mantê-lo vivo?
Porque está fazendo um buraco
E eu não consigo pegar no sono
E eu não consigo viver essa mentira sozinho
Então olhe pra cima
Deixe pra lá
Não olhe para baixo
Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito
Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando
Fico parado nas encruzilhadas
De rodovias e estradas
E sinto que está tudo bem
Se o que estou sentindo é verdadeiro
Não há faz-de-conta
No som das asas do vôo de um pássaro
Deixe pra lá
Não olhe para baixo
Se o mundo não gira
Seu coração não bate
Por ninguém, nada, de nenhum jeito
Então fique comigo, não me deixe
O amor vai chegar
Só está te esperando
Momento poesia. Esta é do Chacal
20 anos recolhidos
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega
***FILOSOFIA DE BOTEQUIM DETECTED***
Não há nada que uma boa conversa no messenger não resolva. Naquelas janelinhas piscantes, é possível, ao mesmo tempo, discursar sobre a estrutura óssea do bailarino e tecer comentários maldosos sobre o gordinho babaca da agência. Com algumas amigas a gente fala bem sério e com outras tem ataques de risos que fazem o departamento inteiro se perguntar “o que essa louca tem hoje?”.
Tenho uma amiga que é A companheira de todas as horas emesseênicas. Porque trabalhamos mais ou menos no mesmo ritmo, ela sempre está ali. Com ela eu falo de cortes de cabelos e de todas as vezes em que fiz e vou fazer coisas estúpidas com a minha vida. Ou com o cabelo, não importa. Mas geralmente é ela quem me faz ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
Outra amiga é aquela que vive correndo, não responde muito rapidamente aos meus apelos desesperados de carência afetiva e me larga falando sozinha nas vezes que precisa sair porque sua vida não se resume ao computador. Às vezes eu sou essa amiga também.
Tem também uma gente que se reúne no chá da tarde virtual. Sim, ladys and gentlemen. Na maior falta do que fazer detected ou simplesmente falta de vontade de trabalhar, essas pessoas se reúnem para criar uma profusão de diálogos interligados e que geralmente não dão em nada. Mas nessas horas a gente aprende os melhores palavrões da vida.
Os homens tem uma relação diferente com o messenger: geralmente o usam para ofender o time do outro. E isso é tudo. Ou então eles usam a ferramentinha como forma de abordagem, prática altamente condenável, já que nada ainda superou as flores e os chocolates Lindt (a não ser os Godiva e os Guylian).
Alguns queridos não podem usar o brinquedo. Outros não querem. As pessoas bloqueadas também existem e são importantes.
Há pessoas com quem falo todos os dias que moram longe, ou com quem não me encontro tão freqüentemente, mas que sempre estarão perto. Aquelas que você tem certeza que quando encontrar vai sobrar assunto, vocês não vão calar a boca, vão perder o fio da meada e depois vão precisar passar tudo a limpo no msn de novo.
E tem aquelas que você tem medo de ver. Não sei. Eu tenho uma tendência muito forte a desmistificar as coisas que conheço no mundo real. E, se elas não perdem o encanto e a magia, ao menos me parecem desprovidas da moldura do imaginário, o que, convenhamos, não tem tanta graça assim quando começam a falar com a boca e não com os dedos. Frases feitas, geralmente. Tem gente que você deve deixar quieta no canto. Ela não serve para o mundo real, não cabe em sua vida e simplesmente não seria metade do que vendeu naquele pequeno espaço onde colocamos foto e nicknames. Tem gente que não é segura.
Mas, por outro lado, você consegue economizar horas em terapia ao conversar com seres humanos que de longe podem te dar um caminho quando te faltar o chão. Quando você tem dúvidas existenciais no meio de uma tarde friorenta, quando tem certeza que está fazendo a maior besteira do dia, quando não tem certeza se aquela vírgula separa predicado de complemento e quando não sabe o que vai fazer para o jantar.
Hoje veio lá do sul a melhor resposta para uma coisa que não perguntei. Eu usei uma foto antiga dos meus pés usando pantufas. Tudo a ver com o dia. E uma amiga disse que não gostava delas. Como assim alguém pode não gostar de uma coisa tão fofa e aconchegante? E ela me disse: “pantufas são fofas, mas têm sola fina.” Verdade. Pantufas são uma fraude. Uma grande mentira! Quando você mais precisa sentir seus pés protegidos e quentinhos, se engana com aquela coisa que te mostra que o chão continua gelado. Bah, como diria Alessandra.
Tenho uma amiga que é A companheira de todas as horas emesseênicas. Porque trabalhamos mais ou menos no mesmo ritmo, ela sempre está ali. Com ela eu falo de cortes de cabelos e de todas as vezes em que fiz e vou fazer coisas estúpidas com a minha vida. Ou com o cabelo, não importa. Mas geralmente é ela quem me faz ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
Outra amiga é aquela que vive correndo, não responde muito rapidamente aos meus apelos desesperados de carência afetiva e me larga falando sozinha nas vezes que precisa sair porque sua vida não se resume ao computador. Às vezes eu sou essa amiga também.
Tem também uma gente que se reúne no chá da tarde virtual. Sim, ladys and gentlemen. Na maior falta do que fazer detected ou simplesmente falta de vontade de trabalhar, essas pessoas se reúnem para criar uma profusão de diálogos interligados e que geralmente não dão em nada. Mas nessas horas a gente aprende os melhores palavrões da vida.
Os homens tem uma relação diferente com o messenger: geralmente o usam para ofender o time do outro. E isso é tudo. Ou então eles usam a ferramentinha como forma de abordagem, prática altamente condenável, já que nada ainda superou as flores e os chocolates Lindt (a não ser os Godiva e os Guylian).
Alguns queridos não podem usar o brinquedo. Outros não querem. As pessoas bloqueadas também existem e são importantes.
Há pessoas com quem falo todos os dias que moram longe, ou com quem não me encontro tão freqüentemente, mas que sempre estarão perto. Aquelas que você tem certeza que quando encontrar vai sobrar assunto, vocês não vão calar a boca, vão perder o fio da meada e depois vão precisar passar tudo a limpo no msn de novo.
E tem aquelas que você tem medo de ver. Não sei. Eu tenho uma tendência muito forte a desmistificar as coisas que conheço no mundo real. E, se elas não perdem o encanto e a magia, ao menos me parecem desprovidas da moldura do imaginário, o que, convenhamos, não tem tanta graça assim quando começam a falar com a boca e não com os dedos. Frases feitas, geralmente. Tem gente que você deve deixar quieta no canto. Ela não serve para o mundo real, não cabe em sua vida e simplesmente não seria metade do que vendeu naquele pequeno espaço onde colocamos foto e nicknames. Tem gente que não é segura.
Mas, por outro lado, você consegue economizar horas em terapia ao conversar com seres humanos que de longe podem te dar um caminho quando te faltar o chão. Quando você tem dúvidas existenciais no meio de uma tarde friorenta, quando tem certeza que está fazendo a maior besteira do dia, quando não tem certeza se aquela vírgula separa predicado de complemento e quando não sabe o que vai fazer para o jantar.
Hoje veio lá do sul a melhor resposta para uma coisa que não perguntei. Eu usei uma foto antiga dos meus pés usando pantufas. Tudo a ver com o dia. E uma amiga disse que não gostava delas. Como assim alguém pode não gostar de uma coisa tão fofa e aconchegante? E ela me disse: “pantufas são fofas, mas têm sola fina.” Verdade. Pantufas são uma fraude. Uma grande mentira! Quando você mais precisa sentir seus pés protegidos e quentinhos, se engana com aquela coisa que te mostra que o chão continua gelado. Bah, como diria Alessandra.
Tanto tempo
Há 9 anos hoje seria dia de FICAR, uma feira de nome bem sugestivo na pequena Assis, a cidade dos três esses. Estaria frio e mesmo assim as meninas da Turma do Pacotinho* insistiriam (sem que precisasse muito) para irmos na tenda que a boate mais famosa da região havia montado no meio da lama. E chovia, para ajudar.
Era um tempo obscuro, se é que isso pode acontecer com uma garota de vinte e poucos anos que ainda não sabia muita coisa da vida. Mas sinto que era obscuro porque mais uma vez eu não tinha certeza de nada e via dois caminhos à minha frente: viver ou deixar quieto.
Não é sempre que isso acontece, não é verdade? Do nada, um dia você está quieta, seguindo sua vida, quando de repente acende-se uma luz que nem é a do fim do túnel. Barulho de purpurina. E você resolve mudar tudo. Começa com a decoração do quarto. Compra edredon novo. Depois muda o corte e a cor do cabelo. Roupas novas. Olha de um jeito diferente para os passantes na rua. Acha que vai passar. E não passa. Então você percebe que realmente mudou. Não por fora, mas por dentro. E quer outra vida. Quer outro colo. Quer outro chão, talvez uma nova cidade.
Bom, essa parte da cidade eu acho que quis porque por alguns dias eu consegui ser a Joana D’Arc local. Até hoje me lembro de gente me apontando o dedo e perguntando se eu tinha surtado mesmo ou se não valia nada. Duas opções bem doloridas para quem acaba de terminar um namoro e está apaixonada por outro, hein? Duas mentiras que você, por instantes, acha que são verdades e se culpa infinitamente. E depois de tudo feito, não tem com quem dividir. Nem com as amigas, que te dão colo, mas no fundo têm certeza que você surtou, não vale a tequila que bebe, mas que tudo bem.
Não, esse texto não tem nada de melancólico. Eu não tenho saudade dessas coisas e elas nem me afetam mais. Acho engraçado lembrar dessa historinha que recomeçou há 9 anos e que parece um filme de Hollywood, passado naquelas cidadezinhas insossas onde o tédio é o responsável pelas coisas que acontecem depois que todo mundo está dormindo.
Bom mesmo é lembrar daquela noite, da tenda furada que era, de sair correndo na chuva, do rímel escorrendo no rosto, dos beijos escondidos e de ter escutado com muito medo uma pessoa dizer pela primeira vez na minha vida de que eu o encantava. Bom mesmo é saber que viver sempre vai valer a pena.
*Eu e mais meia-dúzia de loucas que faziam Unesp adquirimos o hábito de tomar pó de guaraná para conseguir agüentar uma balada inteira. A gente tinha que estudar – muito! –, eu fazia ballet, participávamos de congressos, feiras e de tantas outras atividades acontecendo ao mesmo tempo, que não havia jeito mesmo de ficar acordada, viva, sã, salva e sóbria se não fosse apelando para isso. E não existia energético ainda (vai, pode chamar de véia). Então, saíamos da casa da bióloga da turma já prontas e despertas, depois de virar um copo do pó da frutinha – que ela havia trazido da Amazônia. O duro é que mulher fala demais. Uma das loucas gritava no meio da balada que “o pó estava fazendo efeito”. Não deu um mês para um amigo me chamar de canto e perguntar se a gente estava só cheirando ou se tava injetando também. E eu, na maior ingenuidade, pensando em que moda era aquela de injetar pó de guaraná. Bom, foi assim que surgiu o apelido de Turma do Pacotinho. Ou das meninas que por duas vezes foram brindadas com lançamentos gratuitos de milho sobre suas cabeças. Mas essa é outra história.
Era um tempo obscuro, se é que isso pode acontecer com uma garota de vinte e poucos anos que ainda não sabia muita coisa da vida. Mas sinto que era obscuro porque mais uma vez eu não tinha certeza de nada e via dois caminhos à minha frente: viver ou deixar quieto.
Não é sempre que isso acontece, não é verdade? Do nada, um dia você está quieta, seguindo sua vida, quando de repente acende-se uma luz que nem é a do fim do túnel. Barulho de purpurina. E você resolve mudar tudo. Começa com a decoração do quarto. Compra edredon novo. Depois muda o corte e a cor do cabelo. Roupas novas. Olha de um jeito diferente para os passantes na rua. Acha que vai passar. E não passa. Então você percebe que realmente mudou. Não por fora, mas por dentro. E quer outra vida. Quer outro colo. Quer outro chão, talvez uma nova cidade.
Bom, essa parte da cidade eu acho que quis porque por alguns dias eu consegui ser a Joana D’Arc local. Até hoje me lembro de gente me apontando o dedo e perguntando se eu tinha surtado mesmo ou se não valia nada. Duas opções bem doloridas para quem acaba de terminar um namoro e está apaixonada por outro, hein? Duas mentiras que você, por instantes, acha que são verdades e se culpa infinitamente. E depois de tudo feito, não tem com quem dividir. Nem com as amigas, que te dão colo, mas no fundo têm certeza que você surtou, não vale a tequila que bebe, mas que tudo bem.
Não, esse texto não tem nada de melancólico. Eu não tenho saudade dessas coisas e elas nem me afetam mais. Acho engraçado lembrar dessa historinha que recomeçou há 9 anos e que parece um filme de Hollywood, passado naquelas cidadezinhas insossas onde o tédio é o responsável pelas coisas que acontecem depois que todo mundo está dormindo.
Bom mesmo é lembrar daquela noite, da tenda furada que era, de sair correndo na chuva, do rímel escorrendo no rosto, dos beijos escondidos e de ter escutado com muito medo uma pessoa dizer pela primeira vez na minha vida de que eu o encantava. Bom mesmo é saber que viver sempre vai valer a pena.
*Eu e mais meia-dúzia de loucas que faziam Unesp adquirimos o hábito de tomar pó de guaraná para conseguir agüentar uma balada inteira. A gente tinha que estudar – muito! –, eu fazia ballet, participávamos de congressos, feiras e de tantas outras atividades acontecendo ao mesmo tempo, que não havia jeito mesmo de ficar acordada, viva, sã, salva e sóbria se não fosse apelando para isso. E não existia energético ainda (vai, pode chamar de véia). Então, saíamos da casa da bióloga da turma já prontas e despertas, depois de virar um copo do pó da frutinha – que ela havia trazido da Amazônia. O duro é que mulher fala demais. Uma das loucas gritava no meio da balada que “o pó estava fazendo efeito”. Não deu um mês para um amigo me chamar de canto e perguntar se a gente estava só cheirando ou se tava injetando também. E eu, na maior ingenuidade, pensando em que moda era aquela de injetar pó de guaraná. Bom, foi assim que surgiu o apelido de Turma do Pacotinho. Ou das meninas que por duas vezes foram brindadas com lançamentos gratuitos de milho sobre suas cabeças. Mas essa é outra história.
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