"Zangou-se o poeta Pierre Gringoire. Tentara inutilmente atrair um público para a sua peça em versos que representava nas arcadas do Palácio Real, que naquela época, na Paris medieval, ficava na Île de la Cité, mas ninguém queria ouvi-lo. Era Carnaval na França e uma turba alegre carregando nos ombros o corcunda Quasímodo, aclamado como papa dos loucos, foi quem atraia a atenção de todos. Haviam-no escolhido, contou Victor Hugo na sua novela Notre-Dame de Paris, num festival de caretas e espantaram-se quando constataram que a cara dele era aquela mesma, medonha, hedionda. Colocaram sobre o pobre diabo, que fazia as vezes de sineiro da catedral de Notre-Dame, uma tiara de papelão e saíram com ele erguido pelas ruas.
Em seguida, foram os gritos de 'Esmeralda', 'Esmeralda', que retiraram dele, de Gringoire, qualquer esperança que ele ainda guardava em receber uns trocados pela sua peça. Restou-lhe então seguir a farândola para a Place de Grève, na margem esquerda do rio Sena. Então tudo mudou. Lá, o povo tinha aberto uma boa clareira onde Esmeralda dançava e cantava. Era uma ciganinha de cor andaluza que, com seu pandeiro e sua voz, fascinava a platéia. Dominava a cena como ninguém. Logo Gringoire esqueceu-se do fracasso e deixou-se envolver pela magia daquela ninfa das ruas... tão estonteado ficou que, quando a garota passou com seu pandeiro recolhendo tostões, o poeta teria lhe dado um tesouro se tivesse."
"É uma cigana de vibração espiritual de muita luz e força. Cigana bela, andava sempre com uma cabra branca de mascote. Viveu em Portugal, Espanha e França. Adora tachos, facas e colher de pau, pois é protetora da fartura. É festeira, risonha, mandona, deve ser tratada com cuidado e amor.
Usa pandeiro enfeitado com fitas coloridas, tem olhos esverdeados. Suas forças em vida eram a justiça e a piedade. Gosta de bebida fina, frutas, doces variados; sua lua é cheia, e o dia é domingo. Adora dançar com seu pandeiro, usa uma tiara com pedras verdes e moedas."
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"Dava-se na sua voz o mesmo que na sua dança... Era indefinível, era encantador; o quer que fosse de puro e de sonoro, de aéreo, por assim dizer, de alado (...)
Dir-se-ia umas vezes uma louca; outras, uma rainha (...), respirava sobretudo alegria e parecia cantá-la como a ave, serena e descuidada."
Dir-se-ia umas vezes uma louca; outras, uma rainha (...), respirava sobretudo alegria e parecia cantá-la como a ave, serena e descuidada."
Victor Hugo, descrevendo a cigana Esmeralda (Notre-Dame de Paris, 1831)
1 comentários:
Tô aqui inflada de tanto orgulho... vc.é linda mesmo!!!
Saudade das coxias hehehehe.
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