Eu achava que sabia das coisas. Eu, que era a mulher mais forte e decidida dos meus círculos de amizade de mulheres fortes e decididas. Eu que sempre soube o caminho e que tinha todas as respostas na ponta da língua.
E eu que achava que sabia o que era o amor.
Sempre pautei minha vida pelas minhas experiências e as vivi com muita intensidade. Nunca fui do mais ou menos. Era sempre tudo. E achava que isso garantiria uma força maior em mim, como se por viver assim pudesse ser sinônimo de aguentar todos os trancos e barrancos que a vida iria me mostrar. E olha que ela me mostrou. E aguentei tudo, tudo, tudo até 10 meses atrás.
Porque eu, a mulher forte que me tornei, decidi num momento de lucidez que teria um filho. E Helena veio. E me mostrou que eu sou a coisa mais frágil deste mundo. Que não sou nada daquilo que estava nos meus planos.
Amor de mãe é um dos maiores clichês que eu conheço e perdi a conta de quantas vezes ouvi falar "ah, você vai saber disso quando tiver um filho". Eu achava que seria mesmo muito diferente, tipo um amor muito grande, maior do que o que sinto pelos meus pais, meus irmãos, meu marido e minha cachorrinha que é também a minha filha. Mas o que a gente sente por um filho é uma coisa tão diferente, que tinha que ter outro nome. É mais do que tudo isso junto. É um negócio que te faz parar no meio da tarde e ter uma vontade maluca de cheirar o cabelo do seu nenê. Ou de dar um beijinho no pescoço mais lindo e fofinho do mundo. É quando você passa mal de saber que um bebê ficou doente e morre de medo de que aconteçam com seu filho essas atrocidades que o mundo faz com as crianças.
Estou aqui numa manhã ociosa do trabalho pensando nesses 10 últimos meses. Tenho poucas certezas absolutas na vida, mas uma delas é que o dia em que Helena nasceu foi o mais feliz da minha vida. Foi tanto, que adoro lembrar da maternidade, dos médicos e o simples fato de ter que ir ao hospital por uma dor no braço me causa uma alegria estranha porque é o hospital em que Helena nasceu e onde fomos tão felizes.
Aí foi aquele susto de ir com um bebê pra casa. Eu que nem gostava tanto assim de crianças. Antes que isso vire uma polêmica, explico: eu gosto de crianças, mas sempre foi algo ok na minha vida. Não sei falar a língua delas, não sei fazer graça. Não uso termos infantis e não me peçam para falar o "tatibitati" que algumas pessoas parecem ter como segundo idioma. Odeio apelidinhos e, se tem algo capaz de me tirar o humor, é alguém se referir a uma criança como "pituco". Afe, nem acredito que escrevi isso. Estou 10 quilos mais leve.
Aos poucos, como diz uma propaganda que gosto muito, foi nascendo uma mãe. E um pai. E ao contrário do que muita gente disse, nossa vida não mudou, não. Nossa vida se tornou aquilo que buscamos. Era uma vontade dos dois ter um filho, ter uma família, sermos pais legais, diferentes. E me parece que está dando tudo certo.
Quando a gente tem um filho, a verdade é essa, nascem muitos sentimentos. O maior deles é o medo. Medo de perder tudo: do dente que nasce e você não está em casa à própria vida. Medo de não ver tudo. Medo de não estar lá. Medo e muita culpa. Mas a culpa a gente dribla com terapia, conversa com o marido e os grupos de mãe do Facebook. Mas o medo fica, porque o mundo passa a ser um lugar muito mais bonito e também muito mais perigoso.
Perdi as contas de quantas vezes passei mal nos últimos meses com histórias tristes e crianças. Os filhos nos ensinam a gostar dos filhos dos outros. A conhecer mães iguais a você. E diferentes também. É um universo à parte, um clube exclusivo, e hoje sei que é o melhor da vida.
Helena, você tem só 10 meses. Como pode caber tanta coisa nesse espaço de tempo? Seus passinhos pela casa, sua mãozinha dando tchau, sua risada gostosa explica. São 10 meses em que a vida aconteceu diante dos nossos olhos. E o amor ganhou rosto, cor, cheiro e nome. Obrigada, Helena, por nos escolher.
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