"Reze pelo Haiti"

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Caro terremoto,

Você não podia ter escolhido pior hora e lugar, não é?
No comecinho do ano, quando a gente ainda está tão
cheio de esperança.
E no Haiti, em um lugar já tão pobre e sofrido.
Para quê, me diga?
Bom, em parte, você conseguiu: estamos devastados.
Diante de tanta ruína, de tantas mortes, de tanta dor.
Mas saiba de uma coisa, senhor terremoto.
Toda a sua fúria, todo o seu poder, não abalou em nada,
nem chegou a trincar, uma obra muito preciosa.
A obra de dona Zilda Arns.
Ao contrário de você, Dona Zilda só fez construir.
Sua Pastoral da Criança está presente hoje em mais
de 20 países, trazendo esperança e futuro a milhares
de crianças.
E quer saber mais, terremoto bobo: se fosse concedido
a cada um o direito de escolher como deixar essa vida,
dona Zilda certamente teria escolhido esse mesmo:
Fazendo o bem a quem mais precisa.
Dedicando sua vida aos mais pobres.
Dedicando sua vida, enfim.
E se você se acha mesmo essa grandeza toda, espere
para ver a onda de solidariedade que vem aí.
De todo o mundo, virá ajuda, dinheiro, comida, remédios.
Prédios inteiros podem ter ruído, mas corações imensos
serão construídos.
Você pode ser grau 7 na escala Richter, mas na escala
Zilda Arns o mundo responderá com mais força.
Espere para ver.
Terremoto covarde.
Terremoto inútil.
Terremoto infeliz.
Que Santa Zilda Arns tenha compaixão de você.

Cássio Zanatta
Diretor de Criação da Africa

Retrospectiva

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By Sedentário e Hiperativo.

Preguiça

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Eu preciso falar que estou gostando muito de trabalhar na agência do Nizan. E quero dizer isso porque talvez eu não tenha mais o distanciamento necessário para poder discutir coisas sobre ele ou sobre as agências do grupo, que dizem por aí. Bom, mas também não sei se o faria, porque não faz muito meu tipo ser crítica, ainda mais de propaganda.
Tava hoje no Uol uma chamada dizendo que Nizan "ataca" Salvador. Se quiser, leia aqui.
Eu acho que as pessoas estão ficando muito chatas com essa mania de ser politicamente corretas. Qualquer hora um vai preso por fazer piada de português no elevador. Há que rir mais do mundo e de si mesmo e parar de enxergar todo comentário como ofensa. Principalmente os ditos no Twitter. Que preguiça disso...

PREGUIÇA BAIANA
Nizan Guanaes

Não gosto quando se referem à baianidade com o estereótipo da preguiça. Da falta de sofisticação.
Pierre Verger fotografou a Bahia, e os corpos que ele retratou são peitos, troncos e bundas enrijecidas pela história e pela vida dura.
São homens açoitados pela escravidão. A Bahia é graça, prazer, leveza, mas ela é também luta. O Brasil ficou independente com um grito em 1822. A Bahia teve que lutar, morrer e vencer para expulsar de vez os portugueses em 2 de julho de 1823.
Castro Alves, o maior poeta brasileiro, morreu aos 24 anos, deixando uma obra imensa. Ou seja, trabalhou muito para deixar tanto em um tempo tão curto de sua existência.
Todos os anos o povo da Bahia anda 12 quilômetros com potes de água na cabeça para lavar as escadarias de nosso pai, Oxalá.
No Carnaval baiano, enquanto milhões se divertem, milhares trabalham dia e noite cantando, tocando, vendendo, para que o nosso povo e gente de todo o mundo possam se divertir.
Além disso, quem construiu todas aquelas igrejas, aqueles fortes, monumentos? Nós. Quem colocou cada pedra no Pelourinho? Nós. Quem foi açoitado no tronco que deu ao Pelourinho seu nome? Nós. Quem escreveu músicas, filmes, encenou, pintou, esculpiu parte significativa da produção artística deste país?
Ano após ano, década após década? Nós, os baianos.
Joana Angélica, Maria Quitéria são ruas no Rio de Janeiro, mas na Bahia são sofrimento, luta e heroísmo.
A Bahia é luta, mas ela compreende que a vida não é só isso. E não é. E é por isso que essa tal Baianidade atrai em todas as férias e feriados estressados de todo o mundo.
Na costa da Bahia, o melhor conjunto de resorts do Brasil foi construído para que você possa experimentar o melhor da vida, e a gente trabalha enquanto você descansa.
O reitor Edgard Santos, baiano de boa cepa, fez uma das significativas obras de produção acadêmica e cultural, com contundente dedicação.
Lamento que a Bahia seja tão amada, tão exaltada e tão pouco compreendida.
Todos aqueles coqueiros e boa parte das frutas e especiarias que a Bahia tem não nasceram ali: vieram de outras índias e foram plantados pelas mãos calejadas do povo da Bahia.
Mas o mundo é de percepção. E, lamentavelmente, as novas gerações, por incompetência nossa, herdaram a parte mais vulgar, mais inculta, mais básica e folclórica desta baianidade.
Cabe a nós, os velhos, passarmos pela tradição oral, que é de fato Baianidade.
E lembrar a quem dança na Bahia que, enquanto ele dança, alguém toca. Que enquanto ele reza, alguém constrói igrejas.
Ou seja, na Bahia o trabalho é voltado para o lazer e encantamento do mundo.
E toda vez que você chegar estressado e branco e sair moreno e feliz, chegar descrente e sair otimista e apaixonado, nosso trabalho, nosso papel no mundo estará sendo cumprido.
Baianidade é enfrentar a dura vida de uma maneira que ela pareça menos dura e mais vida.
E para que exerçamos a plena Baianidade, é preciso que entendamos plenamente do que é que somos orgulhosos.
Sou orgulhoso da Bahia mãe de Menininha, Cleusa, Carmem, Stella, do grande Obarain e de Padre Sadock, Padre Luna e Irmã Dulce.
Sou orgulhoso da Bahia de Ruy Barbosa, Glauber, - estilos diversos da mesma paixão baiana que nasceu no 2 de julho.
Sou orgulhoso de Gil, Caetano, Bethânia, Gal, de Jorge, meu amigo amado.
Sou orgulhoso de Caribé, Verger, que não nasceram na Bahia, mas a Bahia nasceu deles.
Sou, enfim, orgulhoso dos filhos da Bahia. E por isso sou tão orgulhoso do Brasil.
O Brasil é o maior filho da Bahia. Ele nasceu lá no dia 22 de Abril de 1500 e é por isso que os brasileiros ficam tão felizes quando vão à Bahia. Porque eles estão, na realidade, visitando os parentes, revendo suas raízes.
Baianidade é enfim o DNA do Brasil, é o genoma do país.
Quando o Brasil vai à Bahia, ele volta para casa.
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