ossos do ofício
pois é...o tempo passa, o tempo voa, e eu continuo aqui, sentada na mesma cadeira, olhando pra esse computador...quando tudo parece cansativo, repetitivo, chato, aparece um "kit aparador de pêlos" pra revisar. pode?? que nome mais ridículo...mas o pior de tudo é escolher o que escrever para explicar esse kit. oras, pra que mais vai servir um kit aparador de pêlos??? eu mereço, né?
Luzes da Ribalta
Há algum tempo eu freqüentava uma grande academia aqui em São Paulo. Na verdade, tinha ido parar lá por causa de uma companhia de dança da qual eu participava e usávamos o espaço para ensaiar. Todas as manhãs eu estava lá e, além das aulas de ballet diárias, fazíamos todas as outras que a academia oferecia, como alongamento, Yôga, spinning, musculação e por aí vai.
Era muito comum ver gente famosa circulando ali. Não raro também era ver essa gente em revistas contando de como cuidavam do corpo e aparecendo, sorridente, em revistas de bem-estar, fitness e fofocas. Um mundinho interessante para uma garota que saiu do interior com o firme propósito de conquistar o mundo, mesmo que fosse trabalhando feito uma desvairada em agência de propaganda, escrevendo num blog e dançando, vez ou outra, em qualquer palco que for possível.
Num belo dia de verão, a coordenadora da companhia nos avisou que um jornal de grande circulação iria fotografar nossa aula de barra-solo, que é um tipo de aula de ballet feita no chão, muito potente para alongar e definir a musculatura, além de ter a vantagem de não sobrecarregar a coluna e evitar todos os tipos de desvios que a gente vai ganhando com o tempo. A gente que dança é aparecida por natureza. Gosta mesmo de sair em fotos, ainda mais se for fazendo o que gosta. Então foi um tal de botar o pé na cabeça, de fazer as aberturas mais lindas que existem, no melhor estilo Cirque du Soleil. Tudo pra sair bem na foto. Percebi, de cara, que o fotógrafo gostou de mim. Eu tenho a perna em xis e sei fazer uso dela para mostrar as minhas melhores linhas de bailarina.
À noite, depois do trabalho, liguei para toda a família dizendo que era muito possível que eu saísse na Folha de São Paulo no dia seguinte. O namorido ficou todo orgulhoso e prometeu que, bem cedinho, ia pegar o jornal no trabalho e mostrar para toda a diretoria da Fiesp, onde ele trabalhava, como eu estava ficando importante. É que no Brasil ainda fazem cara feia quando a gente diz que dança. As pessoas ficam se perguntando se nosso destino é ser tia de ballet em escolinhas para criança ou se vai parar atrás do Faustão gingando com a musiquinha da Videocassetada. Então, ali, no jornal, o mito iria por terra. Íamos mostrar mais uma utilidade da dança: ser reconhecida em público. No íntimo, sonhávamos em aparecer numa matéria da Boa Forma ao lado de gente famosa, e ainda mais magras e felizes. Porque bailarina tem uma vantagem enorme: somos perfeitas. “Procurando bem, todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina. E tem piriri, tem lombriga, tem ameba, só a bailarina que não tem.”
O dia seguinte demorou para aparecer. Mas quando veio trouxe consigo a surpresa. Ali, no caderno de esportes, nossa barra-solo foi transformada em aula para pessoas com lesões ortopédicas. Lesada??? Eu???? E, o pior, como imaginava, EU fui a queridinha do maldito fotógrafo que me colocou em primeiro plano, com a cara enfiada no meio das pernas, pra não dizer coisa mais indecente. Tava lá, pra diretoria da Fiesp ver, pra faculdade onde minha mãe trabalha e pro consultório do papai todo saber: um caramujo? Um frango assado? Um polvo?
O pior é que as pessoas perguntavam como saber se era eu mesma e, pela primeira vez na vida, tive vontade de dizer que não era. Mas me reconheceram por um anel que eu usava e foi a única coisa visível na confusão de pernas e bunda. Ah, mas minhas pernas em xis fizeram sucesso em outra ocasião. Finalmente a Boa Forma fez uma matéria comigo e com as outras bailarinas da companhia. Mas, se eu conto aqui, nossa reputação se perde para sempre. Acho que é por isso que a dança no Brasil não dá seus saltos.
Podem acreditar. Isso sou eu.
Era muito comum ver gente famosa circulando ali. Não raro também era ver essa gente em revistas contando de como cuidavam do corpo e aparecendo, sorridente, em revistas de bem-estar, fitness e fofocas. Um mundinho interessante para uma garota que saiu do interior com o firme propósito de conquistar o mundo, mesmo que fosse trabalhando feito uma desvairada em agência de propaganda, escrevendo num blog e dançando, vez ou outra, em qualquer palco que for possível.
Num belo dia de verão, a coordenadora da companhia nos avisou que um jornal de grande circulação iria fotografar nossa aula de barra-solo, que é um tipo de aula de ballet feita no chão, muito potente para alongar e definir a musculatura, além de ter a vantagem de não sobrecarregar a coluna e evitar todos os tipos de desvios que a gente vai ganhando com o tempo. A gente que dança é aparecida por natureza. Gosta mesmo de sair em fotos, ainda mais se for fazendo o que gosta. Então foi um tal de botar o pé na cabeça, de fazer as aberturas mais lindas que existem, no melhor estilo Cirque du Soleil. Tudo pra sair bem na foto. Percebi, de cara, que o fotógrafo gostou de mim. Eu tenho a perna em xis e sei fazer uso dela para mostrar as minhas melhores linhas de bailarina.
À noite, depois do trabalho, liguei para toda a família dizendo que era muito possível que eu saísse na Folha de São Paulo no dia seguinte. O namorido ficou todo orgulhoso e prometeu que, bem cedinho, ia pegar o jornal no trabalho e mostrar para toda a diretoria da Fiesp, onde ele trabalhava, como eu estava ficando importante. É que no Brasil ainda fazem cara feia quando a gente diz que dança. As pessoas ficam se perguntando se nosso destino é ser tia de ballet em escolinhas para criança ou se vai parar atrás do Faustão gingando com a musiquinha da Videocassetada. Então, ali, no jornal, o mito iria por terra. Íamos mostrar mais uma utilidade da dança: ser reconhecida em público. No íntimo, sonhávamos em aparecer numa matéria da Boa Forma ao lado de gente famosa, e ainda mais magras e felizes. Porque bailarina tem uma vantagem enorme: somos perfeitas. “Procurando bem, todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina. E tem piriri, tem lombriga, tem ameba, só a bailarina que não tem.”
O dia seguinte demorou para aparecer. Mas quando veio trouxe consigo a surpresa. Ali, no caderno de esportes, nossa barra-solo foi transformada em aula para pessoas com lesões ortopédicas. Lesada??? Eu???? E, o pior, como imaginava, EU fui a queridinha do maldito fotógrafo que me colocou em primeiro plano, com a cara enfiada no meio das pernas, pra não dizer coisa mais indecente. Tava lá, pra diretoria da Fiesp ver, pra faculdade onde minha mãe trabalha e pro consultório do papai todo saber: um caramujo? Um frango assado? Um polvo?
O pior é que as pessoas perguntavam como saber se era eu mesma e, pela primeira vez na vida, tive vontade de dizer que não era. Mas me reconheceram por um anel que eu usava e foi a única coisa visível na confusão de pernas e bunda. Ah, mas minhas pernas em xis fizeram sucesso em outra ocasião. Finalmente a Boa Forma fez uma matéria comigo e com as outras bailarinas da companhia. Mas, se eu conto aqui, nossa reputação se perde para sempre. Acho que é por isso que a dança no Brasil não dá seus saltos.
Podem acreditar. Isso sou eu.
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